05 fevereiro 2014

Após afirmar nem lembrar quantos já matou, Jhonathan nega ser pistoleiro

Publicado em: 04/02/2014 - 17:40Fonte: G1 / Autor: Clarissa Carramilo

Após assumir o assassinato de Décio Sá e dizer, em entrevista à TV Mirante concedida em julho de 2012, que “perdeu a conta” de quantas pessoas já matou, Jhonathan de Sousa Silva negou ser pistoleiro na manhã desta terça-feira (4), no julgamento sobre a morte do jornalista Décio Sá, no Fórum Desembargador Sarney Costa.
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Jhonathan Silva negou ser pistoleiro. (Foto: Reprodução)
Segundo ele, só foram dois os assassinatos cometidos por ele – o de Fábio Brasil, em Teresina, e o de Décio Sá, em São Luís, ambos em 2012. Em depoimento, Jhonathan acusou a polícia de criar a imagem de “matador” e diz que foi coagido a assumir a autoria de vários crimes. “Eu sofria pressão, ameaça. Se eu não falasse, eles iam me jogar no Presídio São Luís e eu ia pegar 400 facadas lá, e nem minha mãe ia me reconhecer. A polícia já tinha uma linha de investigação e queria que eu confirmasse”, disse.
Durante o depoimento, Jhonathan Silva se contradisse em vários momentos, e disse que chegou a inventar a existência de pessoas no depoimento à polícia. Ele também admitiu que mentiu.
O acusado foi o primeiro réu a depor no segundo dia do julgamento. À tarde, será a vez de Marcos Bruno prestar depoimento e, depois, será iniciado o debate entre os promotores e os advogados de defesa.
Anteriormente, o assassino disse que só aceitou matar Décio porque tinha acabado de sair da prisão e precisava alimentar os filhos. No entanto, acabou assumindo, em seguida, que custeou o próprio transporte e estadia quando foi a Teresina matar o empresário Fábio Brasil. Jhonathan chegou a pedir que os promotores só fizessem perguntas relativas ao Caso Décio Sá, e não sobre o assassinato ocorrido no Piauí.
O promotor Rodolfo Ribeiro contestou as declarações do acusado prontamente, e afirmou que o réu não está colaborando com a Justiça. “Não faz sentido que o senhor saia daqui, vá para outra cidade, sem dinheiro – como o senhor disse que estava quando aceitou matar Décio por R4 100 mil – se desloque para outra cidade e se hospede. É por isso que eu falo que se o senhor estivesse arrependido de fato, o senhor falaria agora. Quem está arrependido mostra arrependimento contribuindo. O senhor não está arrependido.”, ressaltou.
Na entrevista em que assumiu ser pistoleiro, Jhonathan disse que, para ele, matar era uma coisa comum. “Não dá pra descrever o que se sente. No passar do tempo se torna uma coisa comum, não afeta, não abala assim tanto mais como da primeira vez que se faz”, revelou.
Juiz questiona discurso de pobreza do assassino
Ao fim do interrogatório, o juiz Osmar Gomes, também questionou o acusado. “Se você se diz pobre, por que não procurou a Defensoria Pública? Quem paga os honorários do seu advogado?”, perguntou. “O meu pai custeia os honorários e, até pouco tempo, era empresário de posto de gasolina e tem vários imóveis”, falou.

Primeiro dia
Sete das 11 testemunhas arroladas no total prestaram depoimento no primeiro dia. Pela manhã, foi interrogada a irmã de criação de Marcos Bruno, que não foi obrigada a fazer juramento e falou apenas como informante, já que ela também é esposa de Shirliano de Oliveira, o Balão, acusado de auxiliar o assassino a planejar o crime. Também prestaram depoimento dois integrantes de um grupo evangélico que fazia culto em uma duna na Praia de São Marcos, na noite do crime. Eles disseram ter visto o assassino fugindo pelo local.

À tarde, um vigilante e um garçom do bar onde Décio Sá foi morto também prestaram depoimento. Todos mantiveram suas versões sobre reconhecer Jhonathan Silva, mas nenhum soube informar se era mesmo Marcos Bruno quem conduzia a motocicleta que deu fuga ao pistoleiro, já que o motorista estava de capacete.
Fase de instrução
Nos meses de maio e junho do ano passado, após as audiências da fase de instrução, ficou decidido que 11 dos 12 acusados do assassinato do jornalista serão levados a júri popular. Jhonathan Silva está preso em um presídio federal de segurança máxima em Campo Grande, MS, é assassino confesso do jornalista. Já Marcos Bruno, que está preso em São Luís, é acusado de ter pilotado a motocicleta que deu fuga ao pistoleiro, mas nega o crime.

Também serão julgados por representantes da sociedade civil Shirliano de Oliveira (foragido), o Balão, acusado de auxiliar o assassino; José Raimundo Sales Chaves júnior, o Júnior Bolinha (preso no Centro de Triagem do Complexo Penitenciário de Pedrinhas), acusado de intermediar a contratação do pistoleiro; os policiais Alcides Nunes da Silva e Joel Durans Medeiros (em liberdade), acusados de participar de reuniões para tratar do assassinato de Décio Sá e do empresário Fábio Brasil; Elker Farias Veloso, acusado de auxiliar o assassino e a quadrilha tanto no assassino de Décio Sá quanto no de Fábio Brasil (preso em um presídio estadual em Contagem, MG); o capitão da PM, Fábio Aurélio Saraiva Silva, o Fábio Capita (em liberdade), acusado de fornecer a arma do crime; Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Bochecha (em liberdade), acusado de hospedar o assassino após o crime; e os empresários Gláucio Alencar Pontes Carvalho e José de Alencar Miranda Carvalho, pai de Gláucio (presos no Comando Geral  da Polícia Militar), acusados de mandar matar Décio Sá.

O advogado Ronaldo Ribeiro, que trabalhava para os mandantes Gláucio Alencar e José Miranda, foi excluído do júri por falta de provas. No entanto, o promotor Haroldo de Brito disse, na segunda-feira (3), que a polícia e o Ministério Público já possuem provas contra o acusado e devem indiciá-lo.
(Jornal Pequeno)

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