Trabalhar há mais de quinze anos na rede de ensino público tocantinense, em diferentes
cargos e funções, tanto administrativas quanto docente, em constante
aperfeiçoamento, com certeza permite compreender bem a realidade em que se
atua. Assim, se pode afirmar que a Educação Tocantinense, apesar das inúmeras
propagandas e investimentos, estar sem rumo, à deriva, sofrendo, inclusive
absurdos retrocessos.
Todos
sabem e defendem a educação, tanto pública quanto particular, porém a mesma tem
sido penalizada, cada vez mais, por interesses particulares e políticos, os
quais a utilizam como objeto de promoção pessoal e econômica. Se houver
dúvidas, então confira:
* Tem-se
uma ex-secretária de educação Deputada Federal à custa de sua atuação na
referida pasta, durante a qual responde processo por irregularidades na seleção
dos livros didáticos e acusações de uso da máquina pública para se eleger;
* Tem-se
a seleção de diretores de escolas a partir de indicação política, as quais são
utilizadas para se usar as escolas como espaços de captação de votos para os
políticos locais e regionais. Assim, as pessoas para serem contratadas têm que
ser fiéis ao grupo que nomeia os diretores, e se romperem com tal compromisso não
têm seus contratos renovados. Muitos inclusive tem que participar de comícios e
declarar apoio aos candidatos no período de campanhas eleitorais.
* As
escolas, com seus diretores nomeados, muito frequentemente são "orientadas" a contratar serviços e comprar
mercadorias de fornecedores e prestadores determinados pelos políticos que os nomearam
(tal prática fere mortalmente a lei de licitação 8.666/93).
* As formações pedagógica promovidas aos professores são de baixa qualidade (salvo raras exceções): formadores de mesma ou inferior formação dos cursistas; não continuidade de programas de formação (Pós-graduação em avaliação escolar – CESGRANRIO; e Gestão Qualidade Escolar – (GESTAR); e até mesmo não se cumpre adequadamente o pagamento de contratos relacionados a eventos culturais e educacionais – Feira Internacional do Tocantins – FLIT 2012, por exemplo; muitas escolas encontram-se depredadas e desestruturadas por causa de insuficiência ou atraso no repasse dos recursos;
* Os
professores, a partir deste ano, têm que ministrar disciplinas para as quais
não estão qualificados (ex.: professor de todas as áreas ministram aulas de Educação
Física, Religião, Arte, Filosofia etc.), prejudicando absurdamente a qualidade
do ensino e aumentando o estresse profissional.
* Os
professores não têm recursos adequados para ministrar suas aulas: faltam até pincéis
para lousa, não há laboratório de ciências e informática; carência de reforma
das instalações ou climatização das salas de aula (há salas mesmo sem
ventiladores), tornando quase insuportável a condução das aulas pelos professores.
* Muitos
servidores e professores têm desistido de atuar no ensino tocantinense dadas as
péssimas condições – muitos pedem licença para interesse particular e não voltam
mais; outros solicitam exoneração e assumem outros concursos em outras áreas, e
muitos esperam ansiosamente pela aposentadoria.
* Há dois
anos alunos tiveram prometida pelo governo do estado a doação de uniformes
escolares e nunca os receberam;
* Os
professores não escolhem livremente os livros didáticos, pois são “convidados”
a selecioná-los em grupo de escolas ou até mesmo por municípios. E sempre faltam
livros.
* Os
alunos da Educação de Jovem, Adultos e Idosos – EJAI – não têm professores
qualificados para esta modalidade de ensino; não recebem livros didáticos; nem
muito menos acompanhamento ou orientação diferenciada ou especializada, o que
contribui para a evasão massiva.
* O
lanche servido nas escolas encontra-se precarizado e de baixa qualidade: os
alunos do turno noturno, por exemplo, recebem um copo de suco e um bolo
pequenos, os quais não os satisfazem, pois a maioria não jantam devido ao
horário reduzido entre trabalho e a escola;
* As Associações
de Apoio às Escolas não funcionam adequadamente, pois não se reúnem regularmente;
muitos membros não têm mínima formação e compreensão para atuar bem e apenas
assinam o que lhes é pedido devido amizade ou ao parentesco ao presidente da
associação – que não é eleito e sempre é o diretor escolar – nomeado pelos
políticos;
* A
implantação das escolas de tempo integral é deficitária, pois as mesmas não são
ampliadas ou adaptadas, os professores que atuam no programa, em geral, não
são capacitados para o mesmo, são indicados pelos políticos e há até mesmo
emprego de parentes e amigos – não há seletivo público e criterioso.
* A
classe de servidores encontra-se desmotivada, desvalorizada e mal representada devido ao descaso do governo com a categoria. O sindicato da categoria é submisso ao governo; os salários encontram-se defasados
e os contratados demoram a receber ou até mesmo não recebem adequadamente.
Por tudo
isto só resta a insatisfação, a preocupação e a indignação dos que acompanham e
lutam por uma educação de qualidade.
Assim,
faz-se necessário tornar pública as condições impostas aos educadores e alunos
do estado do Tocantins, de modo que a opinião pública compreenda e cobre as melhorias
necessárias.
(Por
Francisco Monteiro, professor)
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