23 junho 2014

Jornalistas da Al-Jazeera são condenados à prisão no Egito

23/06/2014 06h49 - Atualizado em 23/06/2014 10h34

Penas variam entre sete e dez anos de reclusão.

Grupo foi considerado culpado por ajudar 'organizações criminosas'.


Da France Presse / G1
Os jornalistas da Al-Jazeera Baher Mohamed (à esquerda) e Peter Greste (ao centro) são vistos dentro de cela em julgamento no Cairo nesta quinta-feira (5) (Foto: Mohammed Abu Zaid/AP)
Jornalistas da Al-Jazeera Baher Mohamed (esq.) e
Peter Greste (centro) são vistos em cela durante júri
no Cairo em março (Foto: Mohammed Abu Zaid/AP)
Um tribunal egípcio condenou nesta segunda-feira (23) a penas que variam entre 7 e 10 anos de prisão três jornalistas da emissora Al-Jazeera, do Qatar, acusados de apoio à Irmandade Muçulmana, do presidente destituído Mohamed Morsi.
O jornalista egípcio-canadense Mohamed Fadel Fahmy, diretor do escritório da Al-Jazeera antes da proibição do canal no Egito, e o australiano Peter Greste foram condenados a sete anos de reclusão. O egípcio Baher Mohamed recebeu a mesma condenação e uma segunda pena de três anos, o que significa uma sentença de 10 anos. Os três estavam detidos há mais de 5 meses.
No mesmo caso, que provocou uma polêmica internacional, outros nove acusados, julgados à revelia – incluindo três jornalistas estrangeiros (dois britânicos e um holandês) –, também foram condenados a 10 anos de prisão.
No total, 16 egípcios foram acusados de integrar uma "organização terrorista" – a Irmandade Muçulmana – e de "tentativa de prejudicar a imagem do Egito". Quatro estrangeiros também foram acusados de divulgar "notícias falsas" para apoiar a Irmandade.
O Egito considera a rede de televisão como uma porta-voz do Catar, país criticado por seu apoio à Irmandade Muçulmana, enquanto Doha denuncia abertamente as repressões contra os partidários do presidente deposto Mohamed Morsi.
A sentença foi anunciada em um contexto de violenta repressão dos manifestantes pró-Morsi, duas semanas após a eleição presidencial de Abdul Fatah al-Sissi, com 96,9% dos votos. O marechal da reserva já comandava de fato o país desde a destituição e detenção de Morsi, no dia 3 de julho de 2013.
Desde então, as forças de segurança do Egito já mataram mais de 1.400 manifestantes pró-Morsi e prenderam mais de 15 mil pessoas. Centenas delas foram condenadas à morte ou à prisão perpétua em processos rápidos.
Fahmy e Greste foram detidos quando cobriam os eventos no dia 29 de dezembro de 2013, em um quarto de hotel no Cairo transformado em redação após uma operação da polícia contra o escritório da Al-Jazeera. Os jornalistas trabalhavam sem a credencial obrigatória para todos os veículos de comunicação.
O diretor da Al-Jazeera, Mustafa Sawaq, denunciou a injusta condenação dos jornalistas. "Denunciamos esse tipo de julgamento injusto", declarou Sawaq, que se disse "comovido" com o rigor das penas anunciadas contra os jornalistas durante um discurso exibido no canal árabe.
"A detenção de nossos companheiros não tem nenhuma justificativa. É uma vergonha que tenham ficado detidos por 177 dias e a condenação também é ilógica, falta de sentido comum e aparentemente de justiça", declarou a rede do pequeno emirado após o anúncio do veredicto.
A ministra australiana das Relações Exteriores, Julia Bishop, declarou-se "consternada" com a condenação de Greste. Ela também afirmou que o governo ficou "estupefato" com a severidade da pena aplicada.

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