25 fevereiro 2015

Paralisação compromete abastecimento

Em 25/02/2015 - De O Liberal

Caminhoneiros do Pará aderiram à manifestação nacional em protesto contra aumento do preço do diesel. A categoria expôs a precariedade na qual trabalham não só os mais de 15 mil trabalhadores associados no sindicato local da categoria, mas também os mais de 900 mil profissionais de todo o País, que hoje também enfrentam a defasagem do frete, acumulada em 37% nos últimos dois anos. A paralisação atinge pelo menos sete estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará.

“Vai gerar o desbastecimento. Vamos sentir os efeitos do desabastecimento pela falta de caminhões chegando e vamos causar desabastecimento em locais que consomem nossos produtos transportados. Nossa orientação sindical é não fazer bloqueio de vias para não prejudicar mais. Basta parar em algum posto com mínima estrutura e conforto e não trabalhar, deixando o governo federal resolver. Porém, quiseram resolver com a intimação da Advocacia Geral da União (AGU) foi querer apagar um incêndio com gasolina, ou melhor, diesel. Vai dar no mesmo. Não vamos trabalhar”, reforçou o presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens no Estado do Pará (Sindicam-PA), Eurico Tadeu Ribeiro, também vice-presidente da federação nacional da categoria, a Fenacam. 

Os núcleos de protestos se concentraram em Benevides, na BR-316, e na Alça Viária (PA-483). Pela parte da tarde, outros caminhoneiros fecharam a pista entre Marituba e Acará. Também houve paralisação na BR-010, próximo a Paragominas e Itinga, com bloqueio da pista. A manifestação estadual, iniciada na manhã de ontem, segue por tempo indeterminado e pode gerar desabastecimento local e nacional.

A adesão dos caminhoneiros paraenses ao movimento nacional chega a 50%, apenas no primeiro dia, afirma Eurico. Além dos altos custos e baixos fretes para quem transporta cargas no Estado chega a cobrar mais de 70% em cima dos fretes, pois as viagens de retorno não compensam e não há qualquer compensação prévia pelo possível retorno sem mercadorias.

Pela falta de indústrias com mais exportação pelo modal rodoviário, as únicas cargas que realmente são significativas e ainda geram emprego no Pará, segundo Eurico, são carne bovina, pescado, açaí, madeira e minérios. Enquanto isso, a importação é grande e chega mais cara justamente por essa falta de atrativos para vir ao Estado, impactando diretamente nos preços para o consumidor. Ele aponta que 75% dos produtos de hortifruti comercializados no Pará é importado. “Falta fiscalização para o cumprimento da Lei do Caminhoneiro (ou Lei do Descanso, como é conhecida a lei federal 12.619 de junho de 2012), que é boa, mas não funciona. Não há estrutura para descanso nos postos e nem formas de controlar as horas extras e horas de descanso. Por fim, falta ainda fiscalização contra empresas que pagam com diversos cartões e cupons de abastecimento ao invés de dinheiro. E sempre abastecemos nos postos mais caros. É como venda casada. As empresas estão lavando dinheiro e sonegando impostos com isso”, disse Eurico.

Pedro Henrique Nogueira, de 21 anos, foi um dos que paralisou as atividades ontem por acreditar que os fretes atuais não cobrem os custos do caminhoneiro autônomo, principalmente combustível e manutenção. “Ou seja, não temos mais lucro e o frete nunca aumentou. E isso gera riscos. Por exemplo, eu só tenho coberto o pneu, na maioria das vezes, o que custa R$ 600 cada um. Um único pneu novo é mais de R$ 2 mil e dificilmente se compra só um”, disse, justificando o ato como momento chave para mudanças que a categoria reivindica há anos. “Não tem mais jeito de continuar. Hoje faço Belém-São Paulo a R$ 4 mil com 26 toneladas de carga, uma vergonha! Já chego no destino com prejuízo porque o que ganhei nem deu para cobrir os custos”, desabafou.

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