Jefferson Puff - Da BBC Brasil no Rio de Janeiro
Atualizado em 26 de maio, 2014 - 16:34 (Brasília) 19:34 GMT
Manifestantes fecharam entrada para aeroporto e depois protestaram no saguão
A seleção brasileira se apresentou nesta segunda-feira em meio a um clima de tumulto e protestos no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, onde o grupo se reuniu antes de seguir para a concentração na Granja Comary, em Teresópolis.
A 17 dias do jogo de abertura da Copa do Mundo, o primeiro dia da programação oficial do time brasileiro foi marcado pelo protesto de cerca de 150 professores da rede pública fluminense e aproximadamente 15 membros do grupo que foi despejado da ocupação na Favela da Telerj semanas atrás.
Notícias relacionadas
Tópicos relacionados
Em greve, os educadores exigem reajustes salariais e melhores condições de trabalho. Após uma série de passeatas e marchas no centro da cidade nas últimas semanas, a classe pretendia ir a Teresópolis para protestar, mas, segundo integrantes do grupo, foi impedida pela polícia.
Os manifestantes dizem que ônibus e vans que os levariam à serra foram apreendidos pela polícia logo no início da manhã, e que por isso decidiram ir ao Galeão.
Os jogadores foram chegando aos poucos, em voos diferentes, e sendo trazidos até um hotel a poucos metros da área de desembarque do aeroporto.
Ainda cedo, o clima em frente ao hotel era de calmaria, com dezenas de jornalistas de diferentes países, policiais e funcionários da CBF, e a única agitação ocorria quando um carro ou um táxi chegava ao local – sempre na expectativa de que trouxesse mais um integrante da seleção.
O técnico Luiz Felipe Scolari está na Granja Comary desde domingo. Os jogadores se apresentam e fazem exames médicos nestas segunda e terça-feira, e a bola começa a rolar para os treinos somente na quarta-feira.
Protesto
Protesto reuniu cerca de 150 professores, que entraram em greve
Por volta das 10h, a BBC Brasil testemunhou a chegada de um grupo de 150 professores à área de desembarque internacional do Terminal 2 do Galeão.
Ao contrário de Copas anteriores, quando os jogadores eram recepcionados por uma multidão de verde e amarelo, cornetas, e recebiam pedidos de autógrafos, não havia torcedores para recepcioná-los no Galeão.
Pouco depois os manifestantes seguiram para o hotel, perto dali, chamando a atenção da imprensa nacional e internacional e colocando os policiais de prontidão.
Com faixas pedindo investimentos em educação e aos gritos de "Pode acreditar, educador vale mais do que o Neymar!", o grupo manteve sua manifestação pacífica, e não houve confronto com os policiais, que poucos minutos depois receberam reforço da tropa de choque da Polícia Militar.
"Vão ver nossas salas de aula, as condições que a gente tem para lecionar. Precisamos de muito mais do que um aumento salarial", disse a manifestante Vívian, que preferiu informar apenas o primeiro nome.
O ônibus da seleção só saiu com a ação da tropa de choque, que empurrava os manifestantes aos gritos, seguida por uma viatura da Polícia Federal e batedores. Apesar da tensão e do empurra-empurra, não houve confronto e não foram usadas bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta ou balas de borracha.
Havia duas ou três famílias com a camisa verde e amarela, e Jarbas Meneghini, que fabrica réplicas da Taça da Fifa. "Sei que vai haver muitos protestos, mas eu estou aqui para comemorar e desejar boa sorte ao time", disse.
Transtornos e bloqueio
Apesar de alguns momentos de tensão, não houve confronto com a polícia
Após a saída do ônibus que levava os jogadores, o grupo interrompeu o tráfego da avenida Vinte de Janeiro, que dá acesso ao aeroporto. A tropa de choque tentou negociar a liberação de meia pista, mas os manifestantes não cederam.
Depois o grupo cruzou para o outro lado da avenida, bloqueando a saída dos terminais. A ideia era impedir que o ônibus deixasse o aeroporto, mas os batedores abriram caminho por uma rota alternativa.
As interrupções causaram problemas. Consultado pela BBC Brasil, o escritório da Infraero no Galeão disse que os bloqueios provocaram transtornos aos passageiros e que as companhias aéreas gerenciavam a situação, mas que nenhum voo sofreu atraso devido aos protestos.
O clima se exaltou quando as vias foram liberadas e o grupo conseguiu entrar no saguão do aeroporto, e além de gritos, faixas e bandeiras era possível ver passageiros correndo para não perderem seus voos.
O amazonense Laércio chegou sem fôlego ao check-in. Seu voo decolava em meia hora para Manaus. "Quando vi o trânsito parado, achei que fosse a seleção passando. Me surpreendi ao ver tropa de choque e protesto", disse.
Pouco depois, um grupo de moradores que foi despejado da Favela da Telerj foi fotografado com sua faixa. "Os professores nos apoiaram, e agora é nossa vez de apoiá-los. Nossa luta é por moradia, não temos para onde ir", disse Jo, que ajuda a liderar o grupo.
Ela explica que das 6 mil pessoas que foram removidas semanas atrás, cerca de 200 que não tinham para onde ir permanecem numa igreja na Ilha do Governador, não muito longe do Galeão.
Agentes da Polícia Federal acompanhavam o protesto, guardando a saída do desembarque internacional. "É legítimo, são as demandas deles. Só não podem entrar aqui, mas o saguão é público, eles têm direito de protestar", disse um dos agentes sem se identificar.
A própria PF ameaça greves durante a Copa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários geram responsabilidade. Portanto, não ofenda, difame ou dscrimine. Gratos pela contribuição.