28/05/2014 às 10:07 Ítala Lima - jornalismo@portalamazonia.com
Conheça Sálvia Haddad, uma mulher que descobriu nas palavras o aprendizado para encarar os percalços da vida
Sálvia escreve crônicas sobre temas humanos. Foto: Portal Amazônia/ Ítala Lima
MANAUS - Quando Sálvia Haddad decidiu enveredar pelo caminho da escrita, não sabia claramente aonde essa paixão a iria levar. Até que em 2010 a procuradora do Estado do Amazonas lançou seu primeiro livro: ‘Mel e Fel – Retalhos da Vida’. A obra trata-se de um relato autobiográfico do período em que seu marido foi diagnosticado com câncer e ela aguardava o nascimento do terceiro filho. Nesta entrevista cedida ao Portal Amazônia, conheça a mulher que descobriu nas palavras o aprendizado e a serenidade para encarar os altos e baixos da vida.
Embora tenha encontrado na carreira jurídica a tão desejada realização profissional, Sálvia tinha outra paixão: literatura. “Sempre gostei muito de escrever e comecei a registrar os textos sem a pretensão de escrever um livro. Durante um tempo, até pensei em parar, eu escrevia meus textos e o tempo passava, não via naquilo algo claro”. Nas linhas salvas no computador pessoal, ela escrevia sobre sentimentos e relacionamentos sob o olhar de quem cursou três anos de Psicologia. A literatura virou um refúgio para Sálvia depois que sua vida começou a tomar um rumo inesperado.
Em 2011, grávida da filha caçula, seu marido foi diagnosticado com um câncer raro e agressivo. Ele morreu nove meses após o diagnóstico, aos 36 anos de idade. “Foi o momento mais difícil da minha vida, porque eu estava grávida do meu terceiro filho e a escrita aconteceu muito, até como um válvula de escape ao sofrimento. Comecei a escrever com mais frequência e falar sobre aqueles sentimentos que eu estava vivenciando. Infelizmente, a doença do meu marido foi descoberta tarde demais”.
A batalha pela vida e a experiência da escritora é relatada no livro ‘Mel e Fel – Retalhos da Vida.Lançado em 2013, a obra reúne textos autobiográfico e crônicas. “Cerca de 70% do livro escrevi ao longo do período em que minha vida mudou. Coloquei nas folhas deste livro as dores, frustrações e medos. Eu falava para meus amigos o nome é ‘Mel e Fel’, mas tem muito de fel aí”, diz Sálvia, brincando.
Segundo ela, os leitores dizem que por trás das palavras é possível perceber muito aprendizado. Três anos depois da precoce partida de seu esposo, Sálvia lançará seu terceiro livro, que trará um bloco em crônicas e poemas . “O segundo livro tem algumas coisas desse período difícil que passei, mas não é tão carregado com o Mel e Fel. Ele já apresenta um certo humor, além da minha estreia na poesia”, conta.
Tem semana que a escritora está super inspirada, como ela diz: “Estou na onda para escrever”. No dia a dia, Sálvia anota tudo o que lhe desperta atenção. É na calmaria da noite, depois que seus filhos dormem e a casa fica menos agitada que ela senta para escrever. Os textos surgem de várias formas. “Eu posso me inspirar numa frase ou numa palavra que alguém me fez refletir. A história de um amigo que esteja passando por uma situação difícil. Geralmente, as minhas crônicas vêm de um processo de reflexão. Já aconteceu até de sair uma crônica por causa de um reportagem de TV”, explica Sálvia.
Sálvia se define como uma pessoa realista. “Olha eu não vou dizer que sou uma pessoa otimista. A gente ouve as pessoas dizendo: A vida é bela… Eu, naturalmente, nunca tive um perfil muito otimista assim. Eu olho pra vida de uma maneira realista. É difícil eu me espantar com essas coisas. A gente vê o noticiário e sabe que o câncer não bateu só na minha porta. Essa não foi a única dificuldade que eu tive na vida. Também já perdi meu irmão em um acidente de carro. É preciso que a gente procure melhorar como pessoa e se fortaleça, que a gente mantenha o barco no prumo, porque a vida não é fácil”, revela a escritora.
Essa confissão que pode parecer frieza, reflete um sinal positivo: o amadurecimento diante da imprevisibilidade do dia a dia. Afinal, o mel e o fel da vida vêm para todos. O que, de fato, Sálvia transparece, durante a entrevista que concedeu ao Portal Amazônia, é serenidade e sabedoria. O tom de voz calmo e o sorriso sereno no rosto desta mulher convida a uma reflexão sobre o viver.
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