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Muito se debate hoje sobre o futuro do meio impresso. E a grande reportagem vai sobreviver?
A reportagem investigativa é o produto mais nobre do jornalismo, pela dificuldade de apuração, pelo que contraria de interesses estabelecidos, pelo papel de fiscalização que tem. Acho que esse jornalismo não vai morrer, vai continuar em outras plataformas. Acho até que na internet você possa ter até mais atrativos para ler um texto mais longo. Os grandes jornais estão se preparando para focar cada vez mais na internet, porque acham que é uma coisa inexorável. Então o jornalismo investigativo também vai ter que se adequar.

A senhora foi uma repórter especializada na cobertura de telecomunicações. A chegada das mídias digitais piorou ou melhorou a qualidade do jornalismo especializado?
Quando eu comecei a cobrir telecomunicações, no início dos anos 90, praticamente não tinha ninguém que acompanhava esse setor, que depois foi se abrindo. Com a internet, nasceu uma profusão de blogs, mas poucos traziam novidades. E a internet, infelizmente, ainda não superou esse problema de aceitar tudo. Então você tanto tem a informação de boa e quanto a de má qualidade. Mas tudo vai se depurando. E os jornais de credibilidade estão cada vez mais levando seu conteúdo para a internet.

As mídias sociais transformaram os internautas em “repórteres, editores e comentaristas multimídias”. Em que medida esse novo cenário valorizou o jornalismo profissional?
Nós temos um compromisso com a transparência, com a isenção e com a imparcialidade. E essas mídias sociais não têm a credibilidade que eu tenho a oferecer. Quando surgiram, apostava-se que a imprensa tradicional estava com os dias contados. E se vê que não é verdade. Primeiro que você precisa ter uma estrutura muito grande para cobrir com isenção. Esse é um trabalho em equipe, de uma envergadura muito grande. Realmente na internet tem proliferado uma infinidade de blogs, páginas no facebook nos quais as pessoas podem postar o que quiser, dar opinião e interagir. Agora qual é o compromisso deles com a verdade? Nós temos esse compromisso.

E o jornalismo de hoje?
Eu não tenho dúvida de que fazemos um jornalismo muito melhor porque hoje há parâmetros rigorosos de qualidade que temos que seguir, rotinas a serem obedecidas, como ouvir o outro lado, além de ferramentas de apuração muito mais eficientes. No jornalismo atual, a qualidade melhorou muito e acho que vai continuar melhorando, mesmo com a migração para outras plataformas.
Perfil
Trabalhou por 27 anos na Folha de S. Paulo, onde integrou o núcleo de repórteres especiais de 1992 a 2011. Especialista na cobertura de telecomunicações e mídia, recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo em 2008 com a reportagem “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, sobre o enriquecimento patrimonial da Igreja Universal do Reino de Deus e de seu fundador, Edir Macedo. Aposentou-se do jornalismo diário em dezembro de 2011, após 39 anos de atuação como repórter.