03 junho 2014

Investigação sobre espionagem comandada pelos EUA está parada um ano depois

Por Wilson Lima - iG Brasília 

PF até agora não conseguiu depoimento de Edward Snowden para dar encaminhamento ao inquérito, nem identificou de onde as informações sigilosas de Dilma foram acessadas

Iniciadas em julho do ano passado, as investigações da Polícia Federal (PF) sobre a suposta espionagem dos Estados Unidos a computadores e interceptações telefônicas no Brasil, que teria atingido inclusive a comunicação da presidente Dilma Rousseff (PT) e da Petrobras, estão paradas. Após quase um ano, a PF ainda não conseguiu identificar quem, de fato, conseguiu espionar a presidente.



Após as revelações da espionagem norte-americana no Brasil no ano passado, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou a abertura de inquérito sobre as supostas ações da NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos) no Brasil. O inquérito foi instaurado em julho do ano passado e tramita em caráter sigiloso. Entretanto, o iG apurou que a Polícia Federal tem tido extrema dificuldade em avançar no caso. Há dificuldade de dar andamento a depoimentos e de acessar as redes internacionais de dados que teriam sido usadas na operação.

AP/Ex-agente da NSA Edward Snowden

No ano passado, documentos vazados pelo ex-agente da NSA Edward Snowden apontaram que o governo dos EUA teria montado uma rede de espionagem mundial, que teria alcançado inclusive e-mails da presidente Dilma e de seus assessores. A NSA também teria acessado os sistemas de informática da Petrobras, conforme esses documentos. Os EUA teriam até mesmo instalado uma base de espionagem norte-americana no Brasil para coletar dados no país conforme denúncias de Snowden.


Nas investigações instituídas pela PF, a única certeza até agora é de que os dados nos computadores governamentais não foram acessados em terminais instalados no Brasil, como chegou a ser cogitado após as denúncias de que os EUA mantinham uma base de espionagem em Brasília.

Um dos pontos mais problemáticos da investigação é a não obtenção do depoimento de Edward Snowden. Desde outubro do ano passado, a PF tenta, sem sucesso, ouvi-lo. Hoje, o ex-técnico da NSA vive na Rússia como exilado político. Agentes federais apontavam esse depoimento como vital no processo de apuração dos supostos casos de espionagem norte-americana no Brasil. Houve um pedido formal ao Ministério de Relações Exteriores (MRE) para que diplomatas brasileiros tentassem mediar a tomada de depoimento de Snowden, mas sem avanços.

Um outro gargalo que a PF enfrentou foi de ordem técnico-burocrática. A PF conseguiu monitorar o tráfego de informações dentro do Brasil, mas as investigações não puderam avançar para além das fronteiras. Assim, a polícia ainda não conseguiu rastrear a origem dos ataques aos computadores brasileiros.

A troca de informações de dados o Brasil e os Estados Unidos ocorre por meio de fibra ótica e de satélites. Mas esses dados são mantidos sob sigilo. O acesso às informações que trafegam nessa rede, mesmo para fins de investigação, somente pode ser feito mediante autorização dos dois países.

A PF tem um acordo bilateral com as autoridades norte-americanas para acesso a esses dados apenas em casos de crimes relacionados à pedofilia ou tráfico de armas. Entretanto, a PF, pelas informações obtidas pelo iG, tem tido dificuldade de acesso aos dados eletrônicos que trafegam nessas redes entre os dois países porque as informações do caso Snowden têm sido consideradas altamente confidenciais pelas autoridades norte-americanas.

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