Perito criminal Mauro Ricart diz que laudo do IML indica morte natural.
Paulo Malhães foi enterrado na tarde deste sábado em Nova Iguaçu.
A guia de sepultamento do corpo do coronel reformado Paulo Malhães, à qual a Globo News teve acesso, informa que ele sofreu edema pulmonar, isquemia do miocárdio e miocardiopatia hipertrófica. De acordo como perito criminal Mauro Ricart, essa é a causa da morte identificada pelo Instituto Médico-Legal e sugere que Malhães faleceu em decorrência de causas naturais.
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Em entrevista à Globo News, Mauro Ricart destacou que Malhães era portador de uma cardiopatia grave (doença do coração). “Não se pode afastar a hipótese de uma violenta emoção precipita um infarto. Com essas informações [do laudo do IML], a causa da morte dele é natural”, disse.
O perito descartou que o ex-coronel tenha morrido de forma violenta. “Se houvesse ferimentos visíveis decorrentes de uma luta, certamente o laudo cadavérico demonstraria isso numa descrição minuciosa”, ressaltou.
Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, novas diligências eram feitas na tarde deste sábado (26) para tentar esclarecer a morte de Paulo Malhães. Equipes da Divisão de Homicídios foram até o sítio onde morava Malhães para realizar nova perícia.
O delegado adjunto Fabio Salvaretti, da Divisão de Homicídios (DH) da Baixada Fluminense, disse em entrevista coletiva na tarde de sexta-feira (25) que não descarta nenhuma hipótese para a morte do coronel. Salvaretti disse que trabalha com a hipótese de vingança, queima de arquivo e latrocínio.
Enterro em Nova Iguaçu
O corpo de Paulo Malhães foi enterrado às 15h deste sábado (26) em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O coronel reformado, de 76 anos, que admitiu ter participado de torturas durante a ditadura militar, foi encontrado morto na sexta-feira (25) no sítio em que morava, no bairro Ipiranga, na zona rural da cidade.
Torturas na ditadura
O crime ocorreu cerca de um mês depois de o militar ter admitido na Comissão Nacional da Verdade que participou de torturas e desaparecimentos durante a ditadura, inclusive o do ex-deputado Rubens Paiva .
O local não tem câmeras de segurança, de acordo com o delegado Fábio Salvadoretti, que investiga o caso. A mulher e o caseiro não conseguiram reconhecer os criminosos, mas afirmam não ter sofrido violência física. O corpo de Paulo Malhães foi levado para o Instituto Médico-Legal (IML) de Nova Iguaçu.
O Clube Militar, associação que reúne militares da reserva do Exército, informou que não se pronunciará sobre o caso por não conhecer as circunstâncias da morte do coronel. O chefe de gabinete da presidência da instituição, coronel Figueira Santos, afirmou que o Clube Militar só irá se manifestar se surgir algum "fato novo". O Comando Militar do Leste, no Rio, também informou que não vai comentar o caso, já que as investigações estão a cargo da Polícia Civil.
Comissão da Verdade
Em março, em dois depoimentos diferentes, um à Comissão Estadual da Verdade do Rio, no dia 21, e outro na Comissão Nacional da Verdade, dia 25, Paulo Malhães deu detalhes sobre torturas e desaparecimento de corpos durante a ditadura. Primeiro, declarou ter desaparecido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, morto em 1971. No segundo momento, voltou atrás e afirmou não lembrar se foi ele que executou a ação.
“Eu só disse [à imprensa] que fui eu porque eu acho uma história muito triste, quando a família leva 38 anos dizendo que quer saber o paradeiro. Eu não sou sentimental, não, mas tenho as minhas crises”, justificou, na época.
Presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Victória Grabois, considera que o crime demonstra “perigo” para quem investiga a ditadura. “É estarrecedor o que aconteceu. Espero que o Estado brasileiro tome as medidas cabíveis, acione as polícias estadual e Federal para apurarem o que realmente aconteceu. Nós, dos direitos humanos, temos que ficar atentos. Se isso aconteceu com um militar, nós estamos passando por muito perigo”, declarou.
Victória teme que as investigações da Comissão da Verdade sejam prejudicadas devido ao assassinato. “A morte do coronel é uma ameaça, porque outros torturadores podem ficar acuados para prestar depoimentos e esclarecimentos sobre o que aconteceu na época da ditadura militar. Temos que abrir os arquivos da ditadura o quanto antes”, disse.
A Polícia Federal informou que não é atribuição do órgão a apuração desse crime.
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