12 maio 2014

Especialistas debatem reflexos na educação

06/05/2014 09h57 | Atualizado em: 06/05/2014 10h00 De: O Jornal



A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados promoveu, no dia 24 de abril, audiência pública para discutir os reflexos do golpe militar de 1964 no ensino brasileiro. A iniciativa do debate foi da deputada Fátima Bezerra (PT-RN), para quem a educação foi um dos setores que mais sofreram com ascensão dos militares no poder em 1964.

Impactos na administração universitária, exílio de professores e o desmantelamento do ensino público foram alguns dos diferentes reflexos da ditadura militar na educação brasileira apontados por cinco convidados para a audiência pública.

Para o sociólogo Emir Sader, a ditadura representou a ruptura de um modelo econômico de distribuição de renda e arrocho salarial, que teve efeitos na qualidade da educação pública. "A classe média, a partir daquele momento, passou a se bandear para escola particular, fazendo um esforço enorme, colocando no orçamento os gastos de escola e deixando a escola pública como um fenômeno social de pobre".

O professor de sociologia da Universidade de Brasília, Sadi dal Rosso afirmou que o controle da administração universitária, a substituição de reitores e professores e a instalação de uma rede de informações do regime dentro da universidade geraram consequências que ainda hoje se observam. "A universidade não é uma universidade que tem uma visão universalista para a sociedade. Ela deixa fora do alcance dela milhares de estudantes. Eles têm que ir para universidades privadas e assim por diante. E como não têm recursos eles ficam fora do ensino universitário".

O presidente do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti, acrescentou outros impactos, como a perda de qualidade dos educadores e a mudança curricular, com a extinção das aulas de filosofia e a criação da disciplina Educação Moral e Cívica.

Na opinião da deputada Fátima Bezerra (PT-RN), que solicitou o debate, a educação foi um dos setores que mais sofreram com ascensão dos militares no poder em 1964. A parlamentar destacou que as universidades brasileiras tiveram inúmeros de seus professores cassados e departamentos inteiros foram esvaziados, particularmente da área de humanidades. “Bibliotecas foram atingidas pela censura de vários temas e autores, prejudicando a pesquisa acadêmica, o ensino e a livre circulação de ideias”, acrescentou Fátima Bezerra.

O aumento do analfabetismo, conforme dados do IBGE, divulgados no final de 2013, e piora no desempenho de estudantes brasileiros em leitura, de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), foram temas abordados pelo representante do PCdoB, Volnei Garrafa, que afirmou que episódios assim também se devem ao fato de “a ditadura ter castrado em 20 anos uma geração de lideranças”.

Volnei Garrafa considera que o Legislativo precisa estabelecer prioridade orçamentária para a Educação. "O Congresso Nacional tem um papel extraordinariamente importante nas definições das prioridades. De uma vez por todas, nós não podemos mais continuar com professores com salários aviltantes, principalmente os de primeiro e segundo graus, como está acontecendo até hoje."

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), considerou que, “passados 30 anos da redemocratização, é lamentável avaliar que os governos Collor e Fernando Henrique Cardoso trouxeram consigo o gérmen do neoliberalismo da década de 80/90 e participaram de maneira consumativa da desconstrução do estado brasileiro".

Segundo a deputada, a expansão universitária empreendida nos governos Lula e Dilma serão sentidas em 10, 15 anos. “Período em que o Brasil começará a sentir o aumento dos investimentos na educação por meio do Fundo Social do pré-sal, que vai destinar para a Educação e a Saúde R$ 300 bilhões”, enfatizou.

Participaram do debate, o sociólogo e cientista político Emir Sader; o professor da Universidade de Brasília (UnB), Sadi Dal Rosso; o representante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) - Volnei Garrafa; o presidente do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti; e o representante da Ordem dos Advogados do Brasil - seção Rio Grande do Norte (OAB/RN), Marcos Guerra.

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