Patrícia Cunha - Patrícia Cunha - O Imparcial
Publicação: 11/04/2014 12:28
Maria Ethel interpreta Maria Aragão:"É uma peça marcante que gosto de encenar"
É com vendas nos olhos como uma simulação de um interrogatório da ditadura militar que a atriz Maria Ethel começa a dar vida a Maria Aragão. A apresentação ao público e as histórias da infância e da família são feitas em uma interpretação forte e vibrante da atriz que prende a plateia durante a hora em que se segue o solo teatral. A peça A Besta Fera: Uma Biografia Cênica de Maria Aragão, do grupo Xama Teatro está sendo apresentada para alunos da rede pública municipal de ensino como parte do projeto Maria Sempre Viva e os 50 anos do Golpe, e será encenada hoje (11) no Teatro da Cidade às 14h30 e 19h.
Uma cadeira, um colchão e uma luminária compõem o cenário cuja iluminação é um dos pontos forte do espetáculo, além é claro, da interpretação de Maria Ethel. No texto, depoimentos retirados do livro Maria, uma história de paixão e também do diário de prisão da militante que pode ser visto em exposição no Memorial Maria Aragão.
Entre relatos e canções (como Pedaço de mim, de Chico Buarque, e Gracias a La Vida, de Violeta Parra), a atriz Maria Ethel interpreta com grande força dramatúrgica a figura da maranhense Maria José Camargo Aragão (1910-1991), conhecida como Maria Aragão, em sua história de pobreza extrema na busca da superação da fome, do preconceito e da agressão. Na perseguição do sonho de libertar a humanidade, através do exercício da medicina, Maria Aragão entrega-se apaixonadamente às causas sociais, lutando por uma sociedade justa e igualitária.
Toda a história se passa dentro de uma cela. Maria Aragão veste um figurino feito de recortes de manchetes de jornais que retratavam a época. As falas são reais, retiradas de entrevistas que a médica concedeu. Desde que foi apresentado pela primeira vez, em 2008, o espetáculo já teve algumas modificações. “Fizemos algumas adaptações, não no texto, mas na parte cênica mesmo, percebemos algumas coisas que poderiam funcionar melhor, então optamos por deixar apenas a cadeira, o colchão e a luminária em cena”, comenta a atriz e diretora Gisele Vasconcelos.
Após o espetáculo a Companhia e os professores ficam disponíveis para conversar sobre a vida de Maria Aragão e o Golpe Militar. Segundo Gisele, é um momento muito proveitoso em que os estudantes aproveitam para tirar dúvidas e saber um pouco mais sobre esse triste episódio da história do Brasil.
Besta Fera em outros palcos
Em 2008 o espetáculo foi contemplado no Prêmio Myriam Muniz/2007 e no Plano Estadual de Cultura do Maranhão, “Projeto na Rota de Maria”, realizando apresentações em São Luís e em mais 12 municípios do Estado. Participou da III Semana de Teatro no Maranhão e das comemorações póstumas dos cem anos de Maria Aragão. Em 2009 recebeu o prêmio Sated/MA de melhor espetáculo e melhor atriz para Maria Ethel. Desde então, já se apresentou em todo o Maranhão e no Rio de Janeiro, Brasília, Florianópolis e em Cuba no II Festival del Monólogo Latinoamericano y Premio Terry realizado em fevereiro.
“Importante que a história de Maria Aragão seja contada especialmente nesse período com os 50 anos do fim do golpe militar e ela foi uma ativista importante que não pode ficar esquecida. A figura de Maria Aragão deve ficar sempre viva, por isso esse projeto, Maria Sempre Viva”, diz Gisele.
O solo apresentado por Maria Ethel ganha mais força ainda porque a atriz era amiga de Maria Aragão nos anos 1980. Formada atriz aos 54 anos, Maria Ethel diz que representar Maria Aragão é fazer parte da história. “É uma história muito forte, muito viva e marcante. É bom estar no palco representando essa mulher que fez a diferença na nossa história. Foi presa, torturada, mas nunca perdeu suas convicções”, afirma Maria Ethel.
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