Por Estadão Conteúdo | 03/03/2016 10:32 - Atualizada às 03/03/2016 10:34 (Reprodução)
Vírus foi encontrado ativo na glândula salivar e no intestino do Culex, pernilongo comum 20 vezes mais incidente que o Aedes
O surto do vírus zika no Brasil pode ter um novo
vetor além do mosquito Aedes aegypti, segundo revelação feita ontem por
pesquisadores do projeto de vetores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
em Pernambuco. De acordo com a cientista Constância Ayres, o vírus foi
encontrado ativo na glândula salivar e no intestino do mosquito Culex, o
pernilongo comum.
"Isso significa que o atual vírus
conseguiu escapar de algumas barreiras no mosquito e chegou à glândula
salivar", explicou a pesquisadora durante o workshop A, B, C, D, E do
vírus zika. No encontro, ela apresentou resultados preliminares da
investigação que levaram à disseminação do vírus para a glândula salivar
do mosquito, por onde aconteceria a transmissão da doença para humanos.
"Para concluir isso (em definitivo), só falta
identificar em campo a espécie de mosquito infectada com o vírus da
zika", ressaltou a bióloga que ingressará com a nova fase da pesquisa,
partindo para análise do material de campo que está sendo coletado para
chegar a uma conclusão - em seis a oito meses.
"Nas
casas e onde acontecem registros do vírus estão sendo coletados
mosquitos das duas espécies. Trazemos esse material para o laboratório e
fazemos os testes moleculares para detectar o vírus nessas espécies.
Tendo realizada uma grande quantidade de amostras, poderemos ter uma
ideia se o Aedes é o vetor exclusivo, se existem outros vetores e qual a
importância de cada um na transmissão", afirma.
Cautela
Apesar do achado, especialistas dizem que o fato de o Culex ser "infectável" não indica obrigatoriamente que ele possa transmitir zika. "O experimento ainda é muito preliminar", disse Margareth Capurro, bióloga do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
O assunto também foi discutido ontem nos
Estados Unidos. Em debate sobre o combate à zika realizado na sede da
Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em Washington, o coordenador
do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz, Paulo Buss,
afirmou que será preciso pesquisar mais para descobrir se o vírus pode
ser transmitido pelo Culex.
>> Veja formas de combater o aedes aegypti e evitar o zika vírus:
A
melhor forma de combater o zika vírus é eliminar o mosquito transmissor
da doença: o Aedes aegypti. Ou seja, é preciso acabar com todos os
possíveis criadouros do Aedes.. Foto: iStock
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"A
possível transmissão não está descartada, mas ainda precisa ser
provada. É uma das questões que ainda não sabemos responder", ressaltou.
"Diversos estudos estão sendo levados adiante e as análises ainda estão
sendo reunidas por entomologisatas e outros especialistas", afirmou
Buss.
Balanço
No mesmo evento, a Opas
informou que há 134 mil casos suspeitos de zika no continente e 2.765
confirmados. A organização destaca que, pelo fato de 80% das vítimas
serem assintomáticas e ainda existir dificuldade de diagnóstico, esses
números não representam o surto. (Colaboraram Fabiana Cambricoli e Fábio
de Castro)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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