Ilegalidade
Juiz foi duramente criticado ao
tentar comparar caso Dilma-Lula com escândalo Watergate nos Estados
Unidos. Episódio de interceptação da presidenta está sendo chamado de
"Morogate"
por Hylda Cavalcanti, da RBA
publicado
17/03/2016 15:58,
última modificação
17/03/2016 17:10 (Reprodução)
Divulgação/Ajufe
Sérgio Moro reconhece erro em grampo de diálogo entre Dilma e Lula, mas minimiza divulgação de conversas
Brasília – Depois da turbulência provocada pela
divulgação do conteúdo de telefonema grampeado entre a presidenta Dilma
Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o juiz federal
Sérgio Moro, que tinha determinado o fim da interceptação telefônica
horas antes, recuou hoje (17) e, pela primeira vez, reconheceu ter
havido irregularidade no grampo. Mas destacou que considera a divulgação
da conversa "válida" e que caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF)
decidir se as gravações deverão ser ou não consideradas. As declarações
do magistrado foram feitas ao site Consultor Jurídico (Conjur).
Moro confirmou que determinou a interrupção da interceptação, por
despacho, às 11h12s22 de ontem (16). Alegou que "não tinha reparado
antes" que a gravação tinha sido realizada depois do horário autorizado –
e acrescentou que, pessoalmente, não via "maior relevância nisso". Às
11h13, de acordo com documentos obtidos pelo Conjur, o magistrado
emitiu ordem para parar as interceptações, uma vez que, "como já haviam
sido feitas diligências ostensivas de busca e apreensão, não vislumbro
mais razão para a continuidade da interceptação".
O delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima e as operadoras
de telefonia foram informados dessa ordem de suspensão dos grampos até
as 12h18, mas mesmo assim as interceptações continuaram. E o telefonema
entre Dilma e Lula foi registrado às 13h32. Mesmo que tais
interceptações fossem ilegais, Moro liberou o vazamento do conteúdo.
'Justa causa'
Sérgio Moro afirmou porém que, apesar das críticas de vários
magistrados de que o telefonema Dilma-Lula foi obtido de maneira ilegal e
não poderia ter sido divulgado, o fez por existir, em sua opinião, uma
"justa causa" e que "não vislumbra maiores problemas no ocorrido e na
diferença de horários determinados". Acrescentou que, a seu ver, o que
vale é a decisão dele do final da tarde, que autorizou a liberação da
conversa.
Moro foi alvo de duras críticas ao comparar o caso da gravação
envolvendo o telefonema de Dilma para Lula com o do presidente
norte-americano Rixard Nixon no escândalo Watergate (que resultou na
renúncia do então presidente daquele país). O juiz foi bombardeado
por juristas diversos, que lembraram que, no caso Nixon, era o próprio
presidente dos Estados Unidos quem estava cometendo a ilegalidade de
autorizar grampos para obter informações de várias pessoas.
Morogate
"Essa comparação feita por Moro com o caso norte-americano não
tem absolutamente nada a ver com este caso. Nixon era quem estava
grampeando os outros", afirmou o jurista Lenio Streck, que ironizou a
situação chamando o episódio de "Morogate".
"A vingar a tese de Moro de que não há mais sigilo, todos os segredos
da República poderiam ser divulgados. Uma cadeia de contatos que
exporiam todo tipo de assunto que o Presidente da República falasse com
pessoas sem foro", analisou Streck, ao acrescentar em seguida que "quem
examinar esse fato à luz da democracia, dirá: Moro foi longe demais".
Moro determinou à secretaria que prossiga no cumprimento da decisão
anterior para que, no caso da confirmação da posse de Lula como ministro
da Casa Civil, os autos sejam remetidos à mais alta Corte do país.
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