01 abril 2014

Puxão de orelha, prisão e desrespeito à imprensa no Tocantins

segunda, 20 de janeiro de 2014

Ilustração
Desvalorizada por parte da população, a imprensa tocantinense é alvo frequente de ataques 
por parte de autoridades

O Tocantins assistiu na semana passada mais um ataque contra a imprensa livre. Praticado dessa vez por uma delegada, que mandou prender uma equipe de reportagem por “desobediência”, em Araguaína. O fato, por si só, é vergonhoso, mas revela uma triste e teimosa realidade: as autoridades tocantinenses, definitivamente, ainda não aprenderam a lidar com os profissionais da mídia.

No ano passado, um outro caso evidenciou este despreparo. O governador Siqueira Campos (PSDB), levado por um ataque de autoritarismo, puxou a orelha de um repórter, em Palmas. É uma atitude que não combina com o espírito democrático de um homem público. Muito pelo contrário. É um ato indecoroso, lastimável, que vai na contramão dos valores e princípios que devem reger a atuação de um governante ou autoridade.

Em qualquer lugar do mundo onde se respeita e preserva a liberdade da imprensa, os dois casos surgiriam como escândalos públicos, seguidos de pedidos públicos de desculpa. Não é assim no Tocantins. Siqueira não se desculpou. A delegada também não se mostrou arrependida. Alguém falou em punição em relação a ela, mas, certamente, isso não deve acontecer. Faz parte do folclore local o desrespeito aos profissionais da comunicação. É comum destratá-los, ignorando o quão sofrida é a vida de quem batalha para levar a informação ao público. É absolutamente normal rebaixá-los, como se fossem intrusos, mexeriqueiros. É aceitável desprezá-los, descartando a importância do serviço que prestam à sociedade.

A desvalorização, contudo, não está apenas no trato das autoridades com os trabalhadores da comunicação. Infelizmente, muitos tocantinenses também não valorizam o trabalho dos seus conterrâneos. O valor é direcionado a tudo que é produzido fora daqui. Não sabem o quanto é difícil superar as inúmeras dificuldades do dia-a-dia para cumprir bem o papel de comunicador num estado novo, pobre e ainda sem tradição na produção de conteúdos jornalísticos. As redações são apertadas, faltam profissionais e materiais de trabalho, o salário deixa a desejar. Mesmo assim, todo dia, este trabalhador se vira em mil para levar ao público informação e entretenimento. Se o Tocantins, com suas belezas, problemas e desafios, está na internet, televisão, jornal/revista ou rádio, isso se deve a dedicação dos operários da imprensa.

Antes, portanto, de exigir que as autoridades e governantes do estados tratem com mais respeito estes profissionais, é necessário refletir sobre como os tocantinenses está lidando com a imprensa local. Não se trata de aplaudir ou reverenciar tudo que é produzido no Tocantins, mas de reconhecer o esforço e empenho de quem trabalha dia e noite para informar. A informação é um instrumento de formação. Bem informado, o cidadão pode cobrar melhorias para a comunidade. Pode se pronunciar sobre os mais variados assuntos. Pode se sentir parte da sociedade, não apenas como mero espectador, mas como personagem atuante e consciente. Então, que seja dado algum crédito a estes trabalhadores.

Que em 2014, haja um rompimento com essa visão mesquinha e infantil que valoriza apenas o produto/serviço que é trazido de outros lugares para o Tocantins. Há sim no estado profissionais competentes e talentosos, veículos de comunicação sérios e comprometidos com os fatos. Há sim por aqui pessoas que não se deixam abater diante das dificuldades, que encaram com garra, força e ética, a missão de servir aos anseios da sociedade, mediando a relação dela com os poderes e instituições.

Que neste ano, o tocantinense, ciente da importância da imprensa local, valorize-a, contribuindo para melhorá-la e não para diminui-la. Só a partir disso, será possível cobrar com mais autoridade dos governantes e poderosos, o respeito necessário para com os profissionais da comunicação. Enquanto eles sentirem que estão apenas legitimando um comportamento comum entre a população, qual seja de menosprezar o comunicador local, outros puxões de orelha e prisões deverão acontecer. Portanto, é chegada a hora de mudar este cenário. Depende de você, internauta/leitor, de você telespectador ou ouvinte. A mudança começa de baixo para cima. 

(Por Daniel Lélis - Editor-chefe da REDE TO)

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