Publicado em 30/03/2014 às 12:24 por linhares
Parece que o absurdo sobre a tal pesquisa afirmando que o brasileiro aprova estupro de mulheres que usam roupas provocantes parece ter sido um grande engodo do IPEA. Eu suspeitei de cara. Sabem como é, querer parecer um cara legal e sair chutando cachorro morto não faz muito minha praia. Eu gosto de ser a voz dissonante em grande parte das vezes porque em grande parte dessas vezes as opiniões da massa são tolas e superficiais. E não é que a pesquisa que levantou a sociedade brasileira na internet contra os mais de “50% de brasileiros que são a favor do estupro” não fez perguntas sobre estupro EM NENHUM momento?
Vi muita gente inteligente entrando no curral. Eu até me senti tentado a fazer a mesma coisa, mas decidi esperar para ver. E hoje pela manhã eu li as perguntas e tive acesso ao perfil do grupo pesquisado. Pois é, muita gente saiu por aí se revoltando à toa. A pesquisa não prova absolutamente nada além da incompetência do IPEA na ocasião.
Veja as perguntas, o percentual de respostas e comece a pensar comigo.
“Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.” - 65% dos entrevistados concordaram, total ou parcialmente.
“Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros.” - 58,5%, idem.
E então, meus caros? Perceberam a confusão na tal pesquisa? Eu acho que a maioria sim, mas vamos lá.
Nas duas perguntas existe uma certa “provocação” velada. Primeiro incitam o pensamento, depois fazem a pergunta. Ora, ora e ora. Quando falamos de mulheres que “usam roupas que mostram o corpo” e “mulheres que não se comportam” para o brasileiro comum, obviamente a primeira impressão recai sobre mulheres vulgares. Não estou fazendo juízo de valor, que fique claro. Mas, sejamos coerentes, a introdução não deixa de dar um empurrãozinho na resposta. Vamos adiante.
Mulheres que mostram o corpo, eles disseram. Pois eu vos digo, como objetivar este tipo de afirmação? São as que mostram a bunda? Usam shortinho? Minissaias? O calcanhar?Andam nuas pela rua? Mostram os ombros? Não é preciso dizer que em tempos hipocrisia social este tipo de afirmação pode despertar respostas óbvias, mesmo tratando de algo obscuro. Ora, o que desperta mais amor oculto e ódio escancarado do que a exposição dos corpos de mulheres em bailes funk, BBB, programa de TV e o escambau? na proteção de seus lares, as pessoa assistem e curtem. Mas, quando confrontadas à realidade tentem a recusá-la. E o exemplo disso é a relação de amor e ódio dos brasileiros com as tais “piriguetes”.
Agora, a segunda parte confusa de uma pergunta pergunta. O que é “ser atacada” para você? Não é preciso ser um gênio para saber que no Brasil o termo ataque pode remeter a centenas de interpretações. E essas interpretações podem ir desde a mais moderada crítica, cantada, repreensão e até o estupro propriamente dito. O termo foi colocado de forma vaga e antecedido de uma generalização subjetiva. NÃO PODE SER LEVADA EM CONSIDERAÇÃO.
Ah, e antes que os revoltados tendem contrapor a situação, cabe aqui uma ressalva: 66% das pessoas que concordaram parcial ou totalmente eram mulheres!
Após uma primeira pergunta subjetiva que circunstancialmente direcionou a resposta, era preciso o “grand finale” “Se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”? Pense comigo, leitor:
“Se crianças soubessem se comportar, haveria menos acidentes domésticos?”
“Se homens soubessem se comportar, haveria menos brigas no Brasil?”
“Se motoristas soubessem se comportar, haveria menos brigas no trânsito?”
É óbvio que em nenhuma das ocasiões acima podemos opinar com propriedade. E por outro obscurantismo do IPEA, não podemos asseverar com propriedade se o pensamento do entrevistado estava a altura da pergunta do entrevistador.
Não podemos negar que não existe novidade alguma em ver as pessoas defendendo o comportamento de vítimas como mecanismo de autodefesa. Isso se chama PREVENÇÃO. Se ela irá funcionar ou não, ninguém, pode afirmar. Vejam só:
É óbvio que a maioria das pessoas iria afirmar que a abolição de cordões e pulseiras de ouro, smartphones, bolsas de griffe e outros itens de luxo teria incidência positiva na diminuição de assaltos. Por conta disso é justo afirmar que estas pessoas culpam os donos dos pertences pelos assaltos em detrimento dos próprios bandidos? Eu creio que não…
O que as pessoas têm em mente quando sugerem esse tipo de prevenção é óbvio: atrair menos a atenção dos verdadeiros criminosos. A pergunta não fala de merecimento ou de culpa, como na primeira, mas em redução de índices. “Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros.” É bom lembrar disso!
Depois deste exercício, que tal ver a característica dos entrevistados que acabou por sacramentar o império do estupro no Brasil?
A) Residentes no Sul ou Sudeste (sse): 56,7%
B) Residentes em áreas metropolitanas (metro): 29,1%
C) Pessoas jovens, 16 a 29 anos (jovem): 28,5%
D) Pessoas adultas, 30 a 59 anos: 52,4%
E) Pessoas idosas, 60 ou mais anos (idoso): 19,1%
F) Mulheres (fem): 66,5%
G) Brancos (branco): 38,7%
H) Católicos (cato): 65,7%
I) Evangélicos (evan): 24,7%
J) Demais religiões, ateus e sem religião: 9,6%
K) Menos que o ensino fundamental: 41,5%
L) Ensino fundamental (edufunda): 22,3%
M) Ensino médio (edumedia): 30,8%
N) Ensino superior (edusuper): 5,4%
O) Renda domiciliar per capita média: R$ 531,26
E eu gostaria de finalizar minha tese contra a tese absurda do IPEA com uma pergunta: o que acontece a estupradores que caem no sistema prisional brasileiro? Nós sabemos muito bem que nem mesmo entre sequestradores, assassinos, ladrões e todos os outros marginais deste país o estupro é algo aceitável. Muito pelo contrário, ser estuprador dentro de uma prisão é algo que nenhum brasileiro quer saber. Portanto, vamos parar com essa molecagem de “machismo” e essa histeria absurda baseada em uma pesquisa imbecil.
(Blog do Linhares)
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