- Atualizada às
Comunidade será ocupada nas primeiras horas deste domingo
JULIANA DAL PIVA
Rio - Na véspera da ocupação do Complexo da Maré, Sérgio Cabral declarou neste sábado que as Forças Armadas podem ficar ainda mais tempo na comunidade. Durante a inauguração da Biblioteca Parque Estadual, no Centro do Rio, o governador disse já ter um acordo prévio com o Governo Federal para que isso aconteça caso seja necessário.
"É uma vitória para o Rio. É mais um passo na conquista da pacificação nós estabelecemos na nossa GLO (Garantia de Lei e da Ordem) uma solicitação de prazo que vai até dia 31 de julho, já negociado que se precisar avançar o governo federal falou não tem problema, a gente avança após 31 de julho. O nosso projeto é no segundo semestre a transição seja feita para entrar as UPPs como foi feito no Alemão", diz.
PM vai ocupar a Maré com 1.200 homens nas primeiras horas deste domingo. Agentes vão entrar nas 15 comunidades com apoio de 16 tanques da Marinha e de fuzileiros navaisFoto: Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Na manhã deste sábado, o clima era de tranquilidade na área da Maré. Carros da Polícia Militar estavam nos acessos da comunidade, e o comércio local funcionando normalmente.
Apesar da calmaria neste sábado, o cerco planejado pela PM para a ocupação do Complexo da Maré já resultou na captura de 57 suspeitos de vários crimes — 40 adultos e 17 adolescentes. Desde o último dia 21 até esta sexta-feira, em dezenas de ações realizadas em comunidades da capital e de cidades da Região Metropolitana, foram apreendidas armas, munição, carregadores e drogas. Porém, na Maré, moradores denunciam excessos e até mesmo a execução de um jovem, de 18 anos. O conjunto de favelas será ocupado nas primeiras horas deste domingo por forças de segurança.
Na sexta-feira, durante operação no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, PMs prenderam um suspeito e apreenderam uma pistola, munição e cerca de 100 quilos de maconha, uma das maiores apreensões de drogas nos últimos anos naquela comunidade. O Dendê é dominado por Fernando Gomes da Silva, o Fernandinho Guarabu, do Terceiro Comando Puro (TCP).
Também na sexta, moradores do Parque Rubens Vaz, na Maré, afirmaram que Alexandre Rodrigues Beserra, de 18 anos, foi torturado e executado a tiros por homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), na manhã de quinta-feira. A denúncia, que está sendo investigada pela 21ª DP (Bonsucesso), aponta que o crime teria ocorrido num quarto na Rua João Araújo.
A ocorrência foi registrada como auto de resistência, já que, segundo os PMs, o jovem teria reagido. Os policiais apresentaram uma pistola e munição. Perícia foi feita no local.
Moradores denunciam que jovem teria sido levado por policiais militares para um quarto abandonado, numa viela do Parque Rubens VazFoto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
No entanto, moradores disseram que o rapaz, conhecido como Porquinho, foi rendido e levado para um quarto vazio no número 182, onde poças de sangue ainda podiam ser vistas na tarde de ontem. “Ele foi rendido no campo de futebol e ficou sentado em frente à igreja, enquanto revistavam a casa dele. Só que os policiais começaram a gritar para que os moradores entrassem em casa e não saíssem”, disse um morador, que preferiu não se identificar.
Em seguida, o jovem teria sido levado para uma casa vazia. Pessoas afirmam ter visto o corpo com as mãos amarradas para trás e um pano na boca. O corpo teria sido enrolado em uma capa de moto e colocado no reboque de uma motocicleta.
A denúncia foi feita à Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz, mas as acusações não foram formalizadas na delegacia. Segundo vizinhos, Alexandre morava sozinho, já que sua mãe seria moradora da Cidade de Deus, em Jacarepaguá.
“Além desse fato, muitos moradores estão reclamando de abuso na revista de casas. Eles estão usando chave micha (que abre qualquer fechadura) para entrar sem autorização. Muitas pessoas em toda a Maré relatam casos de ameaças e objetos quebrados em casa”, disse Vilmar Gomes Cristótomo, o Magá, presidente da Associação do Parque Rubens Vaz.
A Polícia Civil informou que os dois policiais do Bope envolvidos na ação foram ouvidos e tiveram as armas apreendidas. A Polícia Militar não comentou o caso.
Fugas por todos os lados
Às vésperas da ocupação da Maré, o Disque-Denúncia (2253-1177) recebeu informações de que traficantes do Comando Vermelho (CV) estariam migrando para a Vila Joaniza, na Ilha do Governador. Enquanto isso, moradores de Niterói denunciam que outro bando, do Terceiro Comando Puro (TCP), estaria a caminho da cidade.
Um comboio com bandidos teria chegado na noite de quinta-feira ao Complexo do Caramujo, Zona Norte de Niterói. Com mochilas cheias de drogas e dezenas de fuzis e pistolas, os traficantes estariam concentrados nos morros da Lagoinha e Mundo Novo.
Além disso, na segunda-feira à noite, moradores do Morro do Estado, em Niterói, contaram que bandidos do Parque União, na Maré, teriam entrado em guerra com criminosos da favela, dominada pelo TCP. Eles estariam escondidos no Morro do Arroz, naquele município.
Menor P pediu uma Bíblia e iluminação na cela
Assim que chegou à Penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, mais conhecida como Bangu 1, Marcelo Santos das Dores, o Menor P, de 32 anos, fez dois pedidos: a Bíblia e uma iluminação na cela que lhe permitisse a leitura. E foi atendido.
Menor P foi surpreendido por agentes da Polícia Federal num apartamento duplex em Jacarepaguá, quarta-feira. O advogado dele, Nilson Lopes, afirmou que seu cliente ‘pensava em se entregar, cumprir sua pena e se ressocializar’. “Traficantes rivais mandaram recado o ameaçando. Ele temia pela sua integridade física”, disse Nilson.
Preso em 2003, o traficante conquistou o benefício do regime semiaberto (quando deveria trabalhar durante o dia e retornar à cadeia para dormir) quatro anos depois, mas não retornou para a cadeia.
Munição nas mãos do PCC
Foi parar nas mãos da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) 700 projéteis de fuzil 7.62 mm que eram para ser usados na ocupação do Complexo do Alemão, em 2010. A negociação teria sido feita pelo sargento Ivan Carlos dos Santos, do 28º Batalhão de Infantaria Leve, de Campinas (SP), que participou junto com sua unidade do processo de pacificação do conjunto de favelas. A informação, publicada no jornal ‘O Estado de S. Paulo’, foi confirmada pelo promotor de Justiça Militar Claudio Martins, responsável pelo caso.
“Ele confessou a venda ao PCC em depoimento”, afirmou o promotor. O militar, que era furriel (responsável pelo controle de uso de munição) no seu batalhão, contou ainda que, em outras ocasiões, desviou munição utilizada em treinamento para vendê-las por R$ 10. O sargento, que está na penitenciária de Tremembé, começou a ser investigado após a explosão de caixa eletrônico num assalto a banco em Serra Negra, São Paulo, em 2012. “A Polícia Civil achou um celular no local. Foi feita intercepção telefônica, e o sargento aparecia negociando arma e munição”, contou Martins.
No Rio, Ivan participou da Operação Arcanjo VI, no Alemão. Os projéteis desviados foram vendidos para Luciano Santana Barbosa, o Malaca, integrante do PCC e foragido desde 2010. Em depoimento, o sargento afirmou que a negociação ‘eram sobras da operação do Alemão’.
(Jornal O Dia Rio)
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