De Info Abril - por Gustavo Gusmão - em 24/04/2015 17h31
Wikimedia Commons / xm7
Preso em 2014 por seu envolvimento com o The Pirate Bay, o sueco Peter Sunde não mudou muito seus hábitos online depois que foi solto, no final do mesmo ano. Em conversa com jornalistas realizada na sede do Coletivo Actantes, em São Paulo, na última quinta-feira (23), um dos fundadores da versão original do indexador de torrents disse, por exemplo, que “ainda faz downloads toda hora” – e que inclusive acompanha algo em torno de 16 ou 17 séries.
Hoje responsável pelo sistema de micropagamentos Flattr, o também ativista Sunde disse que não teme ter virado um “alvo maior” de programas de monitoramento em massa utilizados por governos. Até porque, para ele, esse tipo de priorização não existe. “O bom desses sistemas de vigilância é que eles não discriminam ninguém, não são racistas e nem preconceituosos”, afirmou, em tom irônico. E é justamente por essa abrangência toda que, para ele, “nós estamos mais ferrados do que pensávamos”.
“Podemos até limitar os danos [causados por esse monitoramento em massa], mas não podemos vencer essa luta”, disse o sueco. “E, por isso, precisamos encarar as próximas batalhas”, afirmou Sunde. Ele mesmo já fez algo assim. Nos últimos anos, o foco de seu ativismo “não é só relacionado à internet, e sim à sociedade”.
“Nós não vamos mais falar sobre o que a web se tornou, porque tudo está se fundindo.”
O fim dos piratas
Durante a conversa, Sunde também justificou a polêmica declaração que deu no começo deste mês, sobre a morte do movimento pirata. Para ele, muitos braços do Partido Pirata (PP) não veem o cenário da sociedade como um todo, defendendo apenas propostas relacionadas à liberdade de expressão, por exemplo. Mas não que o ativista não acredite nisso – muito pelo contrário, como ele mesmo ressaltou.
O problema, segundo ele, é “quando você não sabe o que o político vai fazer em termos de educação, imigração e outros temas”. “É vergonhoso ganhar votos baseados em apenas algumas poucas propostas.” Dos PPs ao redor do mundo, por fim, Sunde vê o da Islândia como o que tem “mais noção desses tópicos”, tanto que é hoje o maior partido do país.
Streaming e uma nova internet
Nascidos como alternativas bem-vindas à pirataria, os serviços de streaming – com exceção do Popcorn Time, que representa um avanço, em sua opinião – não agradam muito o cofundador do Pirate Bay. Não porque pagam mal os artistas, argumento utilizado por Jay-Z e alguns de seus parceiros ao lançar o Tidal. Mas sim porque sofrem de um problema comum na web: a centralização.
“Usei muito o Spotify recentemente, até que um dia algumas músicas que eu ouvia não estavam mais na minha pasta”, contou. “Por alguma razão não explicada, alguém decidiu que aquelas faixas não ficariam mais disponíveis, e eu não tinha uma cópia delas em MP3 por ter começado a usar demais o serviço de streaming.”
Segundo Sunde, em um mundo dominado por serviços assim, outras pessoas também poderiam não ter os arquivos para compartilhar na web, via P2P, e seria mais complicado ainda encontrá-los para baixar. E é isso que, em resumo, acontece com a centralização que hoje domina a internet: “Você desiste de ter algum controle sobre suas coisas e um grupo passa a decidir o que é permitido ou não”. E para descentralizar a web, “talvez precisemos encontrar algo melhor do que a web atual”.
O cofundador do The Pirate Bay continua em São Paulo no fim de semana, e realizará umkeynote na CryptoRave. A apresentação será realizada no sábado, mas o evento sobre segurança e criptografia começa às 18h desta sexta-feira e vai até as 18h do sábado.
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