Em 17/11/2015 - 11:24 - De Araguaína Notícias (Reprodução)
No estado há 31 comunidades reconhecidas e 3 em processo de reconhecimento.
Foto: Anca
Quilombos são grupos étnico-raciais com trajetória histórica própria
Manuel Barbosa e Telma de Sousa
A HISTÓRIA QUE DEVEMOS CONTAR (Homenagem a 20 de Novembro)
No Mês de Novembro, mês da resistência negra, apresentamos algumas comunidades quilombolas do norte do Estado do Tocantins como centro de discussão frente a relevância de articulação dos quilombolas em manter viva suas tradições, culturas, religiosidade e as lutas constante pelo pedaço de terra.
O trabalho foi realizado junto a ANCA(Associação Negra Cor). No decorrer da nossa jornada como professor(a), membro atuante da ANCA, realizamos inúmeros momentos de formação em consonância com a lei 10.639/03 e 11.645.08, destinadas principalmente a docência com a reflexão do que realmente é um quilombo ou uma comunidade quilombola e a sua importância no contexto atual.
Tais reflexões nos direcionaram a perceber que a história do quilombo no Brasil é marcada por lutas e resistências, cuja origem é descrita por alguns pesquisadores no século XVI, tendo sido multiplicados em todo território brasileiro ao passar dos anos. Hoje, segundo dados da Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura, existe no Brasil 3.745 comunidades remanescente de quilombos, identificadas com maior concentração nos estados do Maranhão, Bahia e Minas Gerais.
De acordo com outras fontes, esse número pode chegar a 5.000 mil. No Estado do Tocantins podemos contar com 31 comunidades reconhecidas e 3 em processo de reconhecimento. Mas afinal, o que é um quilombo e como ocorre o reconhecimento de uma comunidade quilombola ?
A resposta não é tão simples assim. Podemos dizer que quilombolas são comunidades tradicionais com espaços necessários à reprodução cultural, social e econômico dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária (Decreto 6.040 de 07/02/2007). São grupos étnico-raciais segundo critérios de auto atribuição com trajetória histórica própria, dotadas de relações territoriais especificas, com preservação de ancestralidade negra relacionadas com a resistência à opressão histórica sofrida. (Art. 2º do decreto 4887 de 20/11/2003).
No entanto ao encontrar com a matriarca do quilombo DONA JUCELINA (Muricilândia–norte do TO) deparamos com uma definição pronunciada através de dela quando perguntamos qual o significado de quilombo? Ela parou por um momento, olhou-me com os olhos cheios d’água e num suspiro respondeu: Quilombo, meu filho, é minha casa, a minha resistência é minha vida. Frente a tamanha e emocionante resposta passamos a entender ainda mais aquela senhora de cabelos brancos e idade nos ombros trazendo consigo o fortalecimento e o resgate de uma comunidade que ainda promove suas celebrações, cultura, religiosidade e costumes fazendo com que sua história seja respeitada e preservada até os nosso dias.
Com esse breve depoimento lembramos da seguinte citação: “Quilombo é um movimento amplo e permanente que se caracteriza pelas dimensões: vivência de povos africanos que se recusavam à submissão, à exploração, à violência do sistema colonial e do escravismo. Formas associativas que se cravam em florestas de difícil acesso, como defesa e organização socioeconômicas e politica própria; sustentação da comunidade africana através de genuínos grupos de resistência politica e cultural”. (NASCIMENTO, 1980. PG 32).
Próximo ao quilombo urbano Dona Jucelina encontramos outro quilombo chamado Cocalinho localizado no município de Santa Fé do Araguaia, distante cerca de 480 km da capital do Estado , Palmas. Cocalinho é formado por 150 famílias com cerca de 600 pessoas. Foi nessa comunidade que culminou a realização do Projeto Axé Consciência negra, desenvolvido pelos alunos no CEM José Aluísio a mais de 10 anos, coordenado pela professora Telma de Sousa .
O objetivo do projeto foi proporcionar o intercâmbio entre alunos e professores fazendo com que o respeito às diferenças e combate ao racismo seja devidamente explorado pelos alunos e professores. No Cocalinho presenciamos a Dança do lindô apresentada por membros da comunidade em pares. Tal dança surgiu em São domingo no Estado do Maranhão , na comunidade de Viola no ano de 1948. Segundo o senhor José Pereira da Silva (Conhecido com Zé Preto), residente na comunidade, ele começou a praticar a dança aos 12 anos de idade, vendo seus avós, seus pais e parentes praticando com muita alegria.
Outra história é que a mesma teria surgido com a necessidade de movimenta-se na semana Santa, pois os velhos acreditavam que tinha que velar os santos do altar, contam ainda que esta dança era um ritual usado pelos escravos pra saudar a lua cheia. É importante enfatizar a maneira hospitaleira e cordialidade dos irmãos quilombolas quando visitados em sua comunidade. Descrevemos essas duas comunidades quilombolas por vivenciar um pouco mais a sua cultura, saberes, necessidades e conquista.
Chamamos atenção para grande preocupação que afligem as comunidades quilombolas, que é PEC 215 que tramita na Câmara dos Deputados e passa para o Congresso o poder de decisão sobre a demarcação de terras seja indígenas ou quilombolas. Essa tentativa da direita nacional visa dificultar a titulação das terras, tendo em vista o poder da bancada ruralista no congresso.
Nesse sentido se percebe a organização e articulação das comunidades e movimentos sociais em combater a PEC 2015, sendo urgente que o governo brasileiro se posicione em defesa de tamanha arbitrariedade com os nossos quilombos e indígenas. Homenageamos com alegria todos os quilombolas do Tocantins.
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