Luís Guilherme Barrucho
Enviado especial da BBC Brasil a Belo Horizonte
27 outubro 2014
Enviado especial da BBC Brasil a Belo Horizonte
27 outubro 2014
Posicionados em frente à sede do comitê de campanha do PSDB, em um hotel desativado no centro de Belo Horizonte, em Minas Gerais, cerca de 500 eleitores do PSDB mantinham os olhares atentos aos números apresentados por âncoras de um canal de TV pago e exibidos em um grande telão, montado às pressas pela coordenação do partido.
Seria ali que o tucano Aécio Neves, belo-horizontino de nascimento, assim como sua adversária Dilma Rousseff (PT), presentearia seus correligionários com um discurso de vitória. Que acabaria nunca se concretizando. Às 20h30 de Brasília, a petista foi reconfirmada no cargo, com 51,64% contra 48,36% do senador.
A expectativa, que ainda se mantinha viva antes da divulgação dos resultados totais das regiões Norte e Nordeste, passou a ceder lugar pouco a pouco à desesperança, às lágrimas e também, por parte de alguns, a discursos mais agressivos.
"É difícil pensar nos próximos quatro anos com esse governo. Esse governo é muito corrupto", afirmou à BBC Brasil Rafael Cheik, de 25 anos, empresário do setor da moda.
Acompanhado de três amigos, ele, que havia chegado ao local uma hora antes do veredicto das urnas, vestia a camisa oficial da seleção brasileira, uniforme padrão entre os que votaram em Aécio durante todo o domingo na capital mineira.
Tristeza
Quando a certeza de que uma "virada" não seria mais possível, o clima de abatimento contagiou a todos. Enrolada em um bandeira do PSDB, a corretora de imóveis Paula Del Sarto, de 25 anos, debulhou-se em lágrimas.
"Isso é uma vergonha. Eu tenho vergonha de ser brasileira e de ser mineira", disse ela, em alusão à vitória de Dilma sobre Aécio em Minas Gerais.
"Estamos nos transformando em uma ditadura de esquerda. Os brasileiros acabaram de dar vitória àqueles que nos roubaram nos últimos 12 anos. O povo é burro. E o PT só pensa no umbigo deles", acrescentou.
Outros eleitores, mais exaltados, entoaram o Hino Nacional pouco depois de gritar palavras de ordem contra o PT e ameaçar encurtar o mandato da presidente reeleita.
"Duvido que Dilma consiga governar nos próximos quatro anos. Nós não deixaremos!", exclamou um eleitor.
Naquele momento, parte dos eleitores, que se aglomerou para acompanhar o resultado das eleições, já havia deixado o local.
Pronunciamento
Perto dali, a cerca de 300 metros, um hotel de quatro estrelas preparava-se para receber Aécio Neves. No local, o tucano faria, por volta das 21h, um pronunciamento à imprensa, em uma sala abarrotada de jornalistas brasileiros e estrangeiros.
Do lado de fora, correligionários tentavam ter acesso, a todo custo, à sala, localizada no mezanino do hotel. Impedidos por um cordão de isolamento que contou com a ajuda de funcionários e seguranças, alguns deles ameaçavam, em tom agressivo, forçar a entrada.
"Queremos ver nosso candidato. Temos direito", gritou um eleitor.
Uma assessora do PSDB tentou argumentar e, imediatamente, foi interrompida. "Vagabunda", afirmou um grupo de eleitores. Resignada, ela ouviu de um colega. "Não adianta. Vai lá para dentro. Eles não querem dialogar".
Aécio chegaria em um carro e entraria no estacionamento sem falar com os correligionários que tanto ansiavam por vê-lo.
Finda a entrevista, ele deixou o local acompanhado da esposa e da família.
Agressão
Ainda no saguão do hotel, eleitores buscavam informações sobre o paradeiro do candidato em meio às autoridades, como o senador eleito José Serra (PSDB) e o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), que deixavam, aos poucos, a sala onde a entrevista coletiva havia ocorrido. Naquele momento, poucos sabiam que Aécio já tinha partido, já que o pronunciamento do tucano não fora veiculado ao vivo.
Para grande parte dos correligionários, a maioria jovens, o termômetro a localização de Aécio era um televisor de porte médio, instalado no saguão do hotel. "Calem a boca porque o nosso candidato vai falar", bradou um dos eleitores, que aparentava liderança sobre a massa humana que tentara invadir o hotel à força havia poucos minutos.
Aos poucos, com a certeza de que Aécio não mais apareceria, a massa humana foi se dissipando. Mas um grupo de 20 a 30 pessoas decidiu prosseguir o ato, caminhando por meio dos carros, rumo à sede do comitê da campanha, de onde haviam saído.
À distância, avistaram um carro com uma grande bandeira do PT para fora do veículo. Os vidros abertos eram um convite para o confronto. O grupo rapidamente cercou o carro e aproveitando o semáforo vermelho, gritou palavras de ordem contra os passageiros. "Fora PT. Vocês são uns nojentos", afirmou um deles. Quando a luz verde piscou e o carro pôde, enfim, desvencilhar-se, um dos integrantes aproveitou para jogar cerveja dentro do veículo. "Você viu? Eles tomaram banho de cerveja!", riu uma mulher.
Por volta das 23h, em frente à sede do comitê de campanha, operários terminavam de desmontar a estrutura que serviria à primeira declaração do presidente eleito ao povo. Um discurso de vitória que nunca saiu do papel.
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