27 outubro 2014

Presidente do TSE aponta os "muitos erros" dos institutos e defende que a divulgação de pesquisas deve ser regulamentada

25/10/14 09h05 - De: Cleber Toledo
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dias Toffoli, disse ao jornal Folha de S.Paulo esta semana que irá convocar os institutos de pesquisa, após as eleições, para fazer uma avaliação sobre os números apresentados ao longo da campanha. De acordo com o que ele afirmou à Folha, foram registrados muitos erros. Ufa! Até que enfim alguma autoridade conseguiu enxergar os absurdos.

"Vamos chamar os institutos para entender o que aconteceu. A primeira coisa que queremos é conhecer melhor, pois não foram erros pontuais e nem contra o partido 'A' ou partido 'B', mas erros sobre diversos resultados", disse o ministro, segundo o jornal.

Ele defendeu que tais erros alteram rumos de campanhas, podem mudar o voto de eleitores e influenciam a bolsa de valores [bingo! É desse jeito mesmo). Por isso, o ministro disse acreditar que novas normas sobre as pesquisas podem ser propostas após reuniões com os institutos.

Toffoli afirmou que a margem de erro diferente entre os levantamentos cria um problema para o eleitor. "Temos pesquisas com margens de erro diferentes, com índices de confiabilidade diferentes. Talvez isso devesse ser padronizado para evitar que se compare alhos com bugalhos toda a vez que duas ou mais pesquisas forem apresentadas", ponderou.

Foto: TSE/Divulgação
Ministro Dias Toffoli: Erros alteram rumos de campanhas, podem mudar o voto de eleitores e influenciam a bolsa de valores

O ministro ainda comentou que o próprio TSE, através de suas resoluções, poderia determinar a padronização de índices. Disse também que o prazo para divulgação de pesquisas pode ser debatido.

"O STF já considerou inconstitucional a proibição 15 dias antes da eleição, mas hoje o STF é outro e muitos países proíbem nesse período. Mas o principal agora é entender o que aconteceu".

O CHORO DE QUEM FATURA ALTO COM PESQUISAS

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, considerou importante a disposição do TSE de ouvir os institutos. "Um aspecto que merece ser rediscutido, por exemplo, é essa obrigação de registrar pesquisa com cinco dias de antecedência no caso das que serão divulgadas pela imprensa. Cinco dias é um prazo muito grande. Foi um dos fatores que mais motivou especulações no mercado financeiro e deu oportunidade para espertalhões criarem pesquisas clone",  disse ele à Folha - lembrando que o jornal e o instituto pertencem ao mesmo grupo e, assim, têm interesses comuns.

A diretora do Ibope, Márcia Cavallari, afirmou: "Falam em erros dos institutos comparando pesquisa com a apuração, mas pesquisa não tem o papel de prever resultados. É o retrato do que ocorreu". Ela também disse que "as pessoas mudam de candidato de última hora".

"Há muitos erros, sim, mas que não são das pesquisas: o cadastro desatualizado do TSE, a abstenção, o eleitor que erra na hora de votar na urna eletrônica e outras variáveis que não são amostrais."

NO TOCANTINS

Os erros dos institutos de pesquisa no Tocantins têm marcado as eleições do Estado muito mais do que os acertos. No dia 5, por exemplo, as urnas desmentiram categoricamente os resultados "antecipados" na véspera pelos dois principais institutos que fazem pesquisa no Estado, o Ibope e o Serpes, na disputa pelo Senado.

Na previsão do Serpes, publicada pelo Jornal do Tocantins do dia 5 - dia das eleições no primeiro turno -, a senadora Kátia Abreu (PMDB) teria 55,83% dos votos válidos contra 27,68% para Eduardo Gomes (SD), ou seja, a senadora seria reeleita com uma vantagem de 28,15 pontos percentuais. A margem de erro seria de 3,46 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi realizada do dia 29 ao dia 3, ouvindo 801 pessoas. O Serpes garantiu que a margem de confiança era de 95%.

O Ibope não foi diferente. A pesquisa foi realizada entre o dia 1º, e o dia 4, portanto, véspera das eleições, ouvindo 812 eleitores, com margem de erro de três pontos para mais ou para menos, e o instituto garantia que o nível de confiança seria de 95%.

Segundo o Ibope, Kátia teria 56% dos votos válidos e Gomes, apenas 31%, portanto, uma diferença de 25 pontos percentuais.

Contudo, os dois institutos foram desmentidos pelas urnas, para muito mas muito além da margem de erro: Kátia obteve 282.052 votos (41,64%) e Gomes com 276.120 votos (40,77%), uma diferença de míseros 5.932 votos (0,87 ponto percentual).

TEM PRECEDENTES

Os dois institutos têm precedentes de "previsões" que geraram suspeitas entre o eleitorado tocantinense. Em 2010, por exemplo, o Ibope "tacou", numa terça-feira, 11 pontos de frente para o então candidato a governador Siqueira Campos (PSDB) contra o então governador Carlos Gaguim (PMDB). Esses 11 pontos viraram 4 no sábado, sem nenhum fato que, aparentemente, pudesse justificar, que ainda "evaporaram" no domingo de eleição, a ponto de o mesmo Ibope concluir na pesquisa de boca de urna, no domingo de eleição, que era impossível dizer quem venceria no Tocantins. E foi mesmo difícil: a vantagem de Siqueira Campos foi de cerca de 1 ponto percentual, o único que restou dos 11 pontos de terça.

Nas eleições municipais de 2012, o prefeito de Palmas, Carlos Amastha (PP), acusou os dois institutos - Serpes e Ibope - de prejudicarem seu desempenho eleitoral ao lançarem no sábado à noite duas pesquisas contraditórias. O Ibope apontava para a vitória de Amastha e o Serpes sinalizava para a possibibilidade de o adversário do pepista, o deputado estadual Marcelo Lelis (PV), vencer.

REGULAMENTAR 

O deputado reeleito César Halum (PRB) criticou na Câmara Federal no dia 15 a publicação de pesquisas eleitorais que considerou “contaminadas” e que influenciaram de forma negativa o eleitor.

Na Tribuna, Halum questionou a Justiça pela ausência de punição aos institutos de pesquisa. “O Tribunal Superior Eleitoral penaliza todos os políticos que erram no processo eleitoral. E essas empresas de pesquisas eleitorais, não tem nenhuma punição para elas? Elas induzem o eleitor ao voto, invertendo resultados, e fica por isso mesmo?”, disparou.

Diga-se que nem só a Justiça: apesar dos erros mais absurdos, não se vê o Ministério Público Eleitoral (MPE) agindo com o rigor com que atua em outras situações, apesar dos sequentes deslizes dos institutos de pesquisa.

Halum revelou a pretensão de apresentar Projeto de Lei Complementar visando a proibição de divulgação de pesquisas há 20 dias do pleito. “É preciso uma intervenção da Lei ou ficaremos a mercê destas pesquisas mentirosas”, concluiu.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

O deputado estadual Eli Borges (Pros) também já havia tocado no assunto na Assembleia no dia 8. Ele reforçou o que já tinha defendido, que é a realização de um debate sobre o que chamou de “manobra” dos institutos de pesquisas. O parlamentar garantiu que os dados dos institutos não se comprovaram nas eleições e podem ser interpretados como uma tentativa de direcionar o voto do eleitor. “A postura é inaceitável e terá que mudar”, defendeu.

CRIME ELEITORAL

Algo precisa ser feito. Se o MPE e a Justiça Eleitoral não agem, então, o Congresso precisa adotar uma medida séria. O que não pode é esses institutos continuarem agindo ao bel-prazer, numa indústria milionária, que prejudica a democracia, abusando da boa-fé do eleitorado. 

E muito diferente do que afirmam os veículos que também faturam horrores com essa indústria sórdida, não se trata aqui de "liberdade de expressão", de "direito do leitor de ter acesso à informação". As pesquisas são manipuladas e isso precisa ser visto como crime eleitoral. Repito: é um ato criminoso, é a fraude mais grave que se comete contra a democracia, às barbas da Justiça Eleitoral e do MPE, que até agora só assistem.

Informação deturpada com a manipulação de pesquisas não é informação de qualidade, sendo assim, não há nela interesse jornalístico. Pelo menos para quem quer exercer a profissão com decência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários geram responsabilidade. Portanto, não ofenda, difame ou dscrimine. Gratos pela contribuição.