14 julho 2014

Família de mulher xingada de “macaca” por Senador Mário Couto é perseguida

Posted: 12 Jul 2014 03:26 AM PDT - De: Anonymous Brasil


Edisane afirma que foi agredida em sua honra e na cor da pele por se negar a fazer propaganda política do candidato a prefeito apoiado por Couto.

O senador Mário Couto (PSDB-PA)é acusado de racismoe abuso de autoridade por uma mulher a quem teria ofendido, chamando de “preta”, “safada”, “macaca”,“vagabunda” e outros palavrões. A assistente-administrativa Edisane Gonçalves de Oliveira, de 34 anos, contou em depoimento na polícia que após revidar às supostas agressões verbais do senador e diante de várias testemunhas, foi detida por ordem de Couto, que alegou ter sido“desrespeitado como senador da República”.

Levada à delegacia de Salinópolis, cidade localizada na região nordeste do Pará, a 265 km de Belém, a mulher prestou depoimento e foi liberada. Ainda no mesmo dia, ela decidiu processar o senador. Ela também fez uma representação criminal eleitoral contra Couto e a coligação“Reconstruindo Salinas”, alegando violação do artigo 300 do Código Eleitoral – valer-se o servidor público da sua autoridade para coagir alguém a votar ou não votar em determinadocandidato ou partido.

Edisane afirma que foi agredida em sua honra e na cor da pele por se negar a fazer propaganda política do candidato a prefeito apoiado por Couto. O promotor de Justiça de Salinópolis, Mauro Mendes de Almeida, procurado pelo repórter, informou que remeteu as peças do inquérito policial para o Supremo Tribunal Federal (STF) em razão de o senador gozar de foro privilegiado.

O caso ocorreu durante uma caminhada do senador e de seus cabos eleitorais pelas ruas do bairro Cuiarana, em Salinópolis. Couto apoiava na ocasião o candidato a prefeito Di Gomes, mas alguns moradores, incluindo Edisane Oliveira, não permitiram que cartazes e uma bandeira com a foto do afilhado político dele fossem pregados nas paredes de suas residências. Isso teria irritado o senador tucano.

Em depoimento prestado ao delegado Raphael Lobão Cecim, a mulher relata que, por volta das 9h30, estava tomando café em sua casa quando ouviu um barulho de pessoas na rua e saiu para ver o que estava ocorrendo. Ela disse que viu um rapaz que não conhece no quintal da sogra dela, pedindo para pregar uma bandeira de uma coligação,mas a sogra respondeu que não, porque não gostava de bandeira pregada na porta de sua casa.

PALAVRÕES

Segundo o boletim de ocorrência lavrado por Edisane, o cabo eleitoral (que é seu vizinho) passou ao lado de sua casa, mas antes de fazer o mesmo pedido ouviu um outro rapaz dizer: “Não prega aí não, que ela é do contra”. A denunciante respondeu que não era do contra, mas que não gostava, até porque na residência funciona um comércio.

Nesse momento, segundo ela, o senador Mário Couto ia passando em um carro, bemdevagar, e teria falado diversascoisas que Edisane diz não ter entendido. Ela falou que não era obrigada a pregar bandeira de um partido ou de outro.Foi aí, segundo ela, que o senador começou a dizer que a mulher era “safada”, “filha da puta”, “macaca”, “preta safada”,mandando Edisane “se f(…)”. A mulher conta que respondeu: “Vá você”. Couto teria então dito que ela o respeitasse, obtendo como resposta que era ele quem a estava desrespeitando, e que o senador mandava na casa dele e que, na casa dela, mandava ela.

Couto teria saído do carro e depois voltado, descendo até a rampa da casa, dizendo:“Vou te prender, sua preta safada, você está me desacatando, eu sou um senador da República”. Edisane disse não ter se intimidado, respondendo que era o senador quem a estava desacatando na frente de sua casa e que não tinha feito nada para ser presa. Ainda de acordo com a narrativa da denunciante, Couto chamou dois policiais militares, cujos nomes desconhecee que ficaram com a viatura da PM em frente à sua casa.

Tudo foi testemunhado por vizinhos e pessoas que estavam na rua.Os militares justificaram que estavam apenas cumprindo ordens e pediram para ela acompanhá-los até a delegacia,tendo respondido que queria apenas ligar para seu advogado. Depois de fazer isso, entrou na viatura e foi com eles até a delegacia.Negou ter puxado faca para o senador ou visto alguém fazê-lo.

Na queixa-crime, a mulher classifica de “absurda” a conduta de Couto, afirmando que os crimes de racismo e abuso de poder extrapolam a imunidade parlamentar. Para ela,o senador “deveria ter sido preso imediatamente”.Tema repercutiu em blogs e jornais. Por telefone, o senador Mário Couto contou ao repórter uma outra versão, afirmando que foi ofendido por Edisane Oliveira e que um cabo eleitoral que estava na carreata foi agredido por ela com palavras racistas, sendo chamado de “preto”, “macaco” e ”ladrão”. Segundo ele, a mulher participava de uma carreata com bandeiras de outros candidatos,houve uma confusão e “pessoas do povo” paralisaram a carreata do candidato dela.

DIAS DEPOIS

Segundo ainda relata Couto, Edisane foi até a residência dele para se desculpar e perguntar se o senador precisava de alguma coisa. “Ela se excedeu e se descontrolou. O que houve foi isso. É a verdade. Eu sou um democrata e aceitei asdesculpas, mas respondi que não precisava de nada”, declarou Couto. E resumiu: “A questão é política. Ela apoia o atual prefeito e eu, outro candidato”.Couto também nega ter mandado prender o açougueiro Corrêa, que é marido de Edisane e apreender os alimentos que ele vendia em seu estabelecimento.“Foi a fiscalização [Adepará] que foi lá e viu carne estragada que ele vendia. Estava tudo podre”,acrescentou, garantindo que nada tem a ver com a prisão de Corrêa em flagrante, durante a blitz no açougue. “Fui eu que soltei ele, paguei a fiança”. O advogado que tirou o rapaz da cadeia, ainda de acordo com o senador, também foi indicado por ele. Ao ser informado de que a promotoria de Salinópolis havia encaminhado o inquérito para o STF e que caberá ao procurador geral da República decidir se irá processá-lo por racismo e abuso de autoridade, Couto reagiu com ironia:“Que bom. Ela [Edisane] vai ter que provar o que está dizendo. Estou morrendo de medo por causa disso”. A notícia sobre o incidente envolvendo Couto e a funcionária pública Edisane ganhou repercussão nacional,desde que foi publicada pelo jornal O Estado de São Paulo e por outros jornais do Sudeste e Nordeste na semana passada.Nas redes sociais, o fato ganhou destaque também, reproduzido nos blogs de Ricardo Noblat e Espaço Aberto entre outros.

Marido da suposta vítima se diz perseguido pelo senador Couto

Segundo o companheiro de Edisane, o açougueiro Ivanildo de Lima Corrêa, a resposta de Couto à intenção da mulher de processá-lo viria onze dias depois. No dia 24, fiscais da Agência de Defesa Agropecuária do Estado Pará (Adepará) e da Delegacia de Polícia do Meio Ambiente fecharam um pequeno açougue de propriedade de Ivanildo. Conhecido por Vando, o rapaz foi preso em flagrante sob a acusação de manter 42 quilos de carne e frango“impróprios para consumo”,acondicionados em um freezer.“Até hoje não entendi porque fui preso.

Em julho, a Vigilância Sanitária esteve no meu estabelecimento, que é legalizado, viu a carne e o frango estocados no mesmo freezer e nada viu de ilegal. Agora, entraram lá, jogaram creolina em cima dos alimentos e depois levaram para incinerar. Estou me sentindo perseguido, pressionado até o pescoço”.

Ele ficou na cadeia durante oito dias, sem dinheiro para pagar a fiança, arbitrada pela polícia em 30 salários mínimos, e foi solto, segundo suas próprias palavras, depois que o senador, após acordo, conseguiu reduzir o valor para apenas um salário, pagando do próprio bolso a soltura.“Eu quero saber como isso vai ficar. O senador pagou,mandou me soltar e até me deu um advogado”, declarou o açougueiro, estranhando a atitude de Mário Couto.

Ivanildo Corrêa continua a morar em Salinas e a manter seu pequeno comércio de carne, do qual tira o sustento da família. Ele não cometeu nenhum crime contra a saúde pública. Apesar disso, apenas por ser companheiro da mulher agredida pelo senador, foi preso e autuado pela fiscalização da Adepará, que estava a serviço do tucano. Em Salinas, todos sabem: quem enfrenta Mário Couto paga muito caro. 

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