Ofensas às mulheres
O
deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tornou-se réu no Supremo
Tribunal Federal por apologia ao estupro. Ele será julgado por ter dito
que não estupraria sua colega de Câmara, a deputada Maria do Rosário
(PT-RS), porque ela não merecia. A decisão foi tomada pela 1ª Turma, por
maioria, ficando vencido o ministro Marco Aurélio.
A turma
entendeu que as afirmações de Bolsonaro extrapolaram a imunidade
parlamentar e configuram ofensa pessoal. O caso foi analisado pelo
colegiado em duas ações: uma queixa-crime apresentada por Maria do
Rosário (PET 5.243) e uma denúncia da Procuradoria-Geral da República
(INQ 3.932).
Maria do Rosário chamou Bolsonaro de estuprador enquanto o acusava de
incentivar a prática mesmo “sem ter consciência disso”. Bolsonaro então
empurrou Maria do Rosário e a chamou de “vagabunda”. Em dezembro de
2014, Bolsonaro afirmou que só não estupraria a deputada porque ela não
merecia.
As duas ações analisadas têm o ministro Luiz Fux como
relator, que votou pela aceitação da denúncia nos dois processos.
Segundo ele, a manifestação de Bolsonaro teve potencial de incitar
homens à prática de crimes conta as mulheres em geral. Disse ainda que o
uso do termo “merece” pelo deputado confere ao crime de estupro “um
prêmio, favor ou uma benesse”, que dependem da vontade do homem.
“Cuida-se
de expressão que não apenas menospreza a dignidade da mulher, como
atribui às vítimas o merecimento dos sofrimentos. Percebe-se na postura
externada pelo acusado desprezo quanto às graves consequências para a
construção da subjetividade feminina, decorrente do estupro e aos
desdobramentos dramáticos desta profunda violência”, disse Fux.
De
acordo com o relator, Bolsonaro não está coberto pela regra
constitucional que garante ao parlamentar imunidade criminal em relação
às suas declarações, porque as afirmações foram feitas em entrevista ao
jornal e fogem do embate político.
“Essa repercussão significa
também que a incitação há de colher resultados e ressonância pela
opinião pública. Se essa opinião pública [do deputado] é exteriorizada
pela internet ou através de jornais, significa dizer que o seu resultado
foi alcançado, na medida em que várias manifestações públicas,
principalmente na rede mundial de computadores, ecoaram essa afirmação”,
disse o ministro.
O voto do Fux foi seguido pelos ministros Edson
Fachin e Rosa Weber. Luís Roberto Barroso acrescentou que a imunidade
parlamentar não permite violar a dignidade das pessoas. "Ninguém deve
achar que a incivilidade, a grosseria e a depreciação do outro são
formas naturais de viver a vida. O instituto da imunidade parlamentar é
muitíssimo importante. Porém, não acho que ninguém possa se escudar na
imunidade material parlamentar para chamar alguém de 'negro safado',
para chamar alguém de 'gay pervertido'", disse o ministro.
Vencido
no julgamento, o ministro Marco Aurélio entendeu que os fatos fazem
parte de desavenças entre os dois parlamentares. Segundo o ministro, é
“lastimável” que o Supremo “perca tempo” julgando a questão, pelos fatos
estarem cobertos pela imunidade parlamentar.
Deputado encrenqueiro
Os dizeres de Bolsonaro à Maria do Rosário são apenas um dos casos em que o deputado federal foi denunciado. Ele também é acusado de apologia à tortura por ter dito que o militar Brilhante Ustra — ex-diretor do DOI-Codi do II Exército, onde foram torturados presos durante a ditadura militar— seria “o pavor de Dilma Roussef” durante a votação na Câmara do impeachment da presidente afastada.
Os dizeres de Bolsonaro à Maria do Rosário são apenas um dos casos em que o deputado federal foi denunciado. Ele também é acusado de apologia à tortura por ter dito que o militar Brilhante Ustra — ex-diretor do DOI-Codi do II Exército, onde foram torturados presos durante a ditadura militar— seria “o pavor de Dilma Roussef” durante a votação na Câmara do impeachment da presidente afastada.
A atitude foi
repudiada por outros partidos e movimentos democráticos e motivou
pedidos à PGR, à Câmara e ao Supremo para que o parlamentar perca seu
mandato. Na PGR, a representação foi feita por PSOL, PDT, PCdoB, Rede, PT e por representantes do instituto Vladimir Herzog. À Câmara, o pedido partiu da seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil e do Movimento do Ministério Público Democrático. No Supremo, a solicitação é da OAB-RJ. Com informações da Agência Brasil.
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