A missionária Dorothy Mae Stang nasceu em Ohio, nos Estados Unidos, e veio para o Brasil em 1966
Em 12/02/2015 05:36:27 - Portal Ativo
Foto EBC
A zona rural de Anapu, no sudoeste do Pará, testemunhou um tiro que ecoou por todo o Brasil no dia 12 de fevereiro de 2005. Foi nesta data, há 10 anos, que o pistoleiro Rayfran das Neves Sales assassinou com seis disparos a missionária Dorothy Stang, uma liderança religiosa que contrariava os interesses do agronegócio ao defender programas de sustentabilidade em assentamentos da região conhecida como “Esperança”.
No local vivem 300 famílias de agricultores que, assim como a missionária, também convivem com a violência no campo. Fábio Lourenço de Sousa é presidente de uma das associações agropecuárias do assentamento e conta que os colonos recebem ameaças de fazendeiros que ocupavam a área, mas perderam as terras para a reforma agrária.
“A gente tenta se precaver, mas faz parte do processo, mas a gente não desiste por isso, a gente continua lutando, independente das ameaças”, relata Lourenço.
Além dos latifundiários, o PDS também é ameaçado pela cobiça de madeireiros clandestinos. Porisso, o assentamento tem dificuldade em preservar 80% da floresta nativa, conforme manda a lei ambiental. O vigilante de uma empresa terceirizada contratada pelo Incra para fiscalizar a entrada do PDS diz que pouco pode fazer para conter a entrada de pessoas estranhas. “Se o motorista não parar, eu anoto a placa e repasso para o Incra tomar as providências”, conta Edione Pereira Brito.
A guarita onde ele trabalha foi reativada há apenas cinco meses. Cada vigilante fica sozinho durante o seu turno, o que inviabiliza abordar caminhoneiros para solicitar documentações de carga. Apesar de estar a 50 metros de um poste, não há transformador para levar eletricidade para a guarita : o vigilante conta com apenas uma lanterna para identificar motoristas no período da noite.
Dificuldades
O local onde a missionária foi assassinada sempre recebe visitas de colonos. São pessoas como a agricultora Ivanilde Santos Souza, que mora no PDS e lembra com saudades de Dorothy Stang.
Amiga da missionária, Ivanilde continuou o trabalho da norte-americana no assentamento paraense, onde é conhecida como “Irmãzona” e considerada uma liderança informal. Ela lembra que não havia sequer estradas no local onde hoje existem lavouras de cacau, pimenta, banana e milho Apesar disso, o sonho da missionária americana ainda esbarra na falta de investimento.
“Eu gostaria que o governo olhasse mais para a gente, principalmente pro pessoal que mora nesta área de capim, para dar mais reforço para a gente mecanizar a terra. Mexer com esse capim, na enxada, é muito difícil”, relata a agricultora que, assim como Dorothy, deseja um futuro melhor para o PDS: “A gente ver isso aqui plantado de novo, reflorestado”, destaca.
Além das lavouras, os agricultores comemoram outras conquistas, como a escola onde a professora Gleidiane Santos dá aula para os filhos dos lavradores. “Dorothy teve uma influência muito grande na nossa vida, e tem até hoje. Eu sei que as coisas boas tem acontecido graças à ela”, revela a professora, que se orgulha de ter uma irmã nomeada freira na mesma congregação da missionária.
Justiça
De acordo com o promotor Edson Cardoso, que atuou contra os réus do processo Dorothy Stang, o principal legado da missionária foi levar ao tribunal pistoleiros e mandantes (veja quadro ao lado). “As consequências foram determinantes para os envolvidos, que foram presos e cumprem penas altíssimas. A pena de 30 anos para os mandantes foi exemplar” cita o promotor, que encara o relaxamento da pena de alguns condenados como algo natural da legislação brasileira “Nosso ordenamento jurídico não consagra a prisão perpétua”, ressalta.
Membro do Comitê Dorothy, Dinailson Souza concorda que a condenação dos mandantes trouxe consequências positivas para a justiça no campo. “A partir desta luta as pessoas passaram a acreditar de que é possível julgar, levar ao banco dos réus, homens poderosos, ricos, e condená-Los como foi feito no caso Dorothy”.
Entenda o caso
A missionária Dorothy Mae Stang nasceu em Ohio, nos Estados Unidos, e veio para o Brasil em 1966. Se naturalizou brasileira e, como membra de uma congregação católica, passou a morar na Amazônia. Na cidade de Anapu, no interior do Pará, teve contato com a realidade do pequeno agricultor, que enfrenta dificuldade para conseguir terras para trabalhar, e passou a lutar contra a grilagem de terra na região.
“Ela era uma intelectual que resolveu questionar contratos de alienação de terras públicas. É justamente aí que as pessoas envolvidas no crime começaram a alertar que, se ela desenvolvesse esse trabalho que estava desenvolvendo, com certeza muitas terras retornariam para a união. Aí começou a ser planejada a morte dela”, explica o promotor Edson Cardoso.
Dorothy foi morta em fevereiro de 2005, aos 73 anos, após uma emboscada. Segundo a promotoria, existem indícios não comprovados de que haveria um consórcio de fazendeiros interessados na morte da missionária, mas a justiça conseguiu comprovar apenas o envolvimento de dois mandantes, um intermediário e dois autores do crime.
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