06 novembro 2014

Os órfãos do siqueirismo

6 de novembro de 2014 - De: Folha do Bico


O siqueirismo entrou em decadência em 2006, quando o poderoso Siqueira Campos (PSDB) perdeu a eleição para o jovem governador Marcelo Miranda (PMDB). Em 2010, a crise se aprofundou com a extinção da União do Tocantins, entrando no lugar a nova coligação Tocantins Levado a Sério, que logo caiu no esquecimento. E foi em pleno governo Siqueira que o siqueirismo desmoronou de vez.

Eduardo Siqueira Campos (PTB), Sandoval Cardoso (SD), Eduardo Gomes (SD) e Vicentinho Alves (SD) encabeçam a lista dos líderes que cresceram à sombra do siqueirismo e perdem muito com a sua derrocada. A lista, porém, é extensa e inclui nomes aparentemente anti-siqueiristas como Carlos Amastha (PP), Ronaldo Dimas (PR) e Laurez Moreira (PSB).

O ex-senador e ex-secretário de Relações Institucionais Eduardo Siqueira Campos amealhou mais de 28 mil votos nestas eleições e conquistou a posição de deputado estadual mais bem votado da história do Tocantins, mas, contraditoriamente, sai das urnas como o maior derrotado. Ficou longe de alcançar os 100 mil votos que pretendia e não é fácil explicar a opção de ser deputado estadual quando podia ser governador ou quando tinha esta como única meta e pelo qual trabalhou durante quatro anos, sacrificando inclusive o governo do pai.

A eleição para deputado estadual era, antes de tudo, uma necessidade básica para Eduardo obter imunidade parlamentar e tentar se livrar de eventuais questionamentos no futuro sobre seus atos como o principal responsável pelas decisões do governo. Portanto, a eleição não foi bem uma vitória eleitoral, mas uma vitória da estratégia de defesa. Mas a questão não deixou de ser uma derrota do projeto maior: chegar ao Palácio Araguaia. Foi um malogro.

Sem falar que a eleição de Eduardo foi o triunfo do poder econômico e não do prestígio político que se poderia esperar de alguém que acumulou tanto poder, que dava ordem para o governador. Conclusão: Eduardo, embora com mandato, saiu menor do que quando entrou.

Na lista dos maiores derrotados nestas eleições, aparece em segundo lugar o governador Sandoval Cardoso, que ganhou um mandato de presente e pouco fez para merecê-lo. Sandoval teve todas as condições para fazer história, mas deixou passar a oportunidade. Chegou ao governo pela vontade de 16 deputados e teve oportunidade de marcar a sua passagem pelo Palácio Araguaia com fatos positivos, mas por descuido, ou absoluta falta de censo de urgência, tem deixado o seu governo ser referência negativa. O que estamos vendo não é de­monstração de vontade política de fazer, mas da falta dela.

Desde que assumiu o comando do Palácio Araguaia, San­doval, além de não conseguir cumprir os compromissos financeiros assumidos pelo Estado, tem sido incapaz de adotar medidas saneadoras que possam garantir a normalidade da gestão pública. Depois das eleições, tem escancarado a realidade do Es­tado que tanto escondeu. Tem dito que só consegue quitar a folha de pagamento de dezembro e o 13º salário com ajuda do governo federal, o que reflete um total descontrole financeiro.

O deputado federal Eduardo Gomes é o terceiro na lista dos maiores derrotados. Filho do siqueirismo que, às vezes, se deixava passar por filho do ex-governador Siqueira Campos, cresceu à sombra de Eduardo Siqueira e foi um dos mais leais escudeiros, até imaginar que já tinha prestígio suficiente para tentar voo próprio. O deputado surpreendeu em termos de votação para o Senado, mas perdeu as eleições e está sem mandato a partir do dia 1º de fevereiro de 2015. Eduardo Gomes é como o Siqueira pai – um político com mandato que cresce, mas, sem mandato, encolhe e desaparece. Vai ter que se esforçar para voltar à cena política.

O senador Vicentinho Alves conseguiu o grande feito de eleger o filho Vicentinho Júnior (PSB) deputado federal, o mais votado da sua coligação. Neste caso, não é mérito, mas compensação. Na iminência de perder o mandato de senador, Vicentinho não tinha outra escolha a não ser fazer o filho deputado para compensar a perda. Como se sabe, Vicentinho foi o terceiro colocado nas eleições e ocupou a vaga de Marcelo Miranda que foi eleito senador e não pôde tomar posse. O senador, com apoio do governo do Tocantins, faz tudo que pode em Brasília para retardar esta a posse de Marcelo.

O deputado federal Júnior Coimbra (PMDB) também integra esta seleta lista de órfãos do siqueirismo. Coimbra, que presidia o PMDB, deixou-se convencer pelos ouvidos, fez acordo com Eduardo Siqueira para minar a candidatura de Marcelo Miranda e teria como prêmio a indicação da vice na chapa governista. Coimbra executou com perfeição o plano conforme combinado, mas esqueceu de um detalhe: deixou a senadora Kátia Abreu se filiar ao PMDB e viu, aos poucos, o seu projeto de ser candidato a vice-governador na chapa siqueirista naufragar. Resolveu partir para o confronto e levou a pior. Perdeu as eleições. Coimbra está entre os maiores derrotados desta campanha. Teria reeleição garantida, achou pouco, tentou ser vice-governador com toda a campanha paga pelos governistas e ficou sem mandato. Diz que pretende voltar ao jornalismo, atividade que nunca exerceu.

O ex-vice-governador João Oliveira (DEM) também integra a lista dos órfãos do siqueirismo e dos maiores derrotados nestas eleições. Oliveira chegou ao cargo de vice pela indicação da senadora Kátia Abreu e permaneceu no governo, mesmo com o rompimento da senadora com Siqueira. Oliveira virou instrumento de manobra do siqueirismo. Renunciou a vice para permitir a eleição indireta e perdeu a credibilidade. Uma das derrotas mais comemoradas pela oposição. Oliveira terá séria dificuldade para retomar a carreira política, marcada por brigas e submissão ao siqueirismo.

O deputado federal Ângelo Agnolin (PDT) trocou a possibilidade de reeleição para tentar subir mais alguns degraus da carreira à custa do siqueirismo. Aceitou a condição de vice na chapa governista, mas pouco contribui a não ser aumentar o tempo da propaganda eleitoral de televisão. Não era nem governo nem oposição na condição de deputado federal. Fica sem mandato na mesma vala dos órfãos do siqueirismo.

Os deputados José Geraldo (PTB) e Iderval Silva (SD), que desistiram da campanha no meio do caminho, são, antes de tudo, vítimas do siqueirismo, embora também órfãos. José Geraldo era candidato a deputado federal e Iderval Silva buscava a reeleição. Ambos desistiram pelo mesmo motivo: viram seus colégios eleitorais serem invadidos por candidatos governistas endinheirados e não tiveram como reagir.

Os deputados não reeleitos Solange Duailibe (SD), Stalin Bucar (SD) e José Augusto Pugliese (PMDB) também devem ser incluídos na lista dos novos órfãos do siqueirismo. Solange e Stalin tinham histórico de oposição incômoda ao siqueirismo, mas caíram na tentação de acompanhar o governo Sandoval Cardoso e perderam a coerência que mais os identificava. Não conseguiram a reeleição. Pugliesi se manteve como oposição, mas em algum momento vacilou ao tomar partido contra Marcelo Miranda, se envolveu com a crise interna do PDMB e ganhou selo de governista. Deu no que deu.
Legar espólio político

Nesta lista, podem ser incluídos ainda líderes que se aproximaram do siqueirismo não por convicção, mas por puro interesse. É o caso dos prefeitos de Palmas, Carlos Amastha, do PP; de Araguaína, Ronaldo Dimas, do PR, e de Gurupi, Laurez Moreira, do PSB; Os três foram eleitos pela oposição no confronto direto com candidatos siqueiristas e hoje apoiam o governo e seguem o siqueirismo.

Os três gestores se aproximaram do siqueirismo não para fortalecê-lo, mas para tentar herdar seu legado político. São políticos jovens, experimentados e que sabem que têm futuro na política do Tocantins. O trio tem consciência que o siqueirismo se exauriu por absoluta falta de renovação. No entanto, pode retomar a força por meio de algum jovem líder que tenha a coragem de empunhar a velha bandeira do conservadorismo que tanto serviu à União do Tocantins. Os três sonham ser o Siqueira Campos de amanhã.
Derrocada do siqueirismo

No dia 4 de abril, quando renunciou ao mandato de governador, Siqueira Campos deu uma contribuição importante, ainda que inconsciente, para acelerar as mudanças políticas no Tocantins. Ao contrário do que esperavam os governistas, o ato de coragem ou omissão do então governador, em vez de salvar, apressou o fim do siqueirismo.

Até aquele momento, o ex-governador tinha condições plenas, ainda que com resultado pífio de um governo desencontrado, de impor sua candidatura à reeleição e tentar conquistar o quinto mandato de governador. Se preferisse, Siqueira tinha ainda condições de ser candidato ao Senado. Se reconhecesse que fracassou no governo, pediria uma chance ao seu povo que não lhe faltou em outras vezes para encerrar a carreira política no Senado. Por tudo que fez pelo Tocantins certamente conquistaria o mandato.

Contudo, obcecado pela ideia de fazer o filho sucessor, o ex-governador preferiu abrir mão do mandato para provocar uma eleição indireta, e tentar mudar o curso da história, do que partir para o confronto com a oposição. A renúncia provocou a eleição indireta do então presidente da Assembleia Legislativa, Sandoval Cardoso, que virou a solução do siqueirismo para barrar o crescimento avassalador do ex-governador Marcelo Miranda. A renúncia se revelou um equívoco. Tirou o ex-governador da cena política, não favoreceu a candidatura do filho e ainda dividiu as forças governistas. Muitos eram leais a Siqueira e não ao seu preposto Sandoval Cardoso, um adesista de última hora de curtíssimo currículo político.

O resultado não poderia ser pior para os governistas. A maior derrota do siqueirismo, justamente para os seus maiores adversários — Marcelo Miranda e Kátia Abreu —, que ganharam não apenas uma eleição, mas a oportunidade de iniciar um novo ciclo político no To­cantins, que pode durar tanto quanto o ciclo que se encerra, que teve o ex-governador como personagem principal e que daqui para frente deve servir no máximo como uma referência à história.

O ex-governador Siqueira Cam­pos, que não participou das eleições no Tocantins, talvez ofendido pelo menosprezo dos líderes governistas, resolveu voltar aos palanques para apoiar Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais, segundo ele, em retribuição ao seu apoio para criação do Tocantins. A volta de Siqueira era o indicativo da importância da eleição do tucano para o siqueirismo. Siqueira chegou a liderar movimento de mais de 100 prefeitos pró-Aécio numa tentativa de reanimar o siqueirismo, em crise depois da derrota de Sandoval Cardoso.

O sonho durou pouco. Aécio teve um desempenho surpreendente, mas não conseguiu desalojar o PT do Palácio do Planalto. O resultado tem reflexo direto no Tocantins. A reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) amplia a vitória do governador eleito Marcelo Miranda e da senadora reeleita Kátia Abreu na eleição de cinco de outubro, aprofundando a crise de decadência do siqueirismo, que apostou na virada de Aécio como última esperança de se manter no poderde alguma forma.

Com Aécio na presidência, o siqueirismo voltaria a ter alguma força política no Tocantins. Teria força em Brasília para ajudar nos pleitos do Estado, mas, sobretudo de atrapalhar o governo Marcelo Miranda, com um governo paralelo como certamente faria. A derrota de Aécio é mais uma derrota do siqueirismo na sua guerra declarada contra Marcelo Miranda e Kátia Abreu.
No Tocantins, a reeleição da presidente Dilma abre um universo enorme de oportunidades para o Estado, inclusive de ocupar pela primeira vez um cargo de primeiro escalão do governo federal, a exemplo do ministério da Agricultura como se especula.

Indiscutivelmente, esse é um dos momentos mais importantes da história do Tocantins, que vive um processo de mudança e tem no governo federal todo o apoio necessário para consolidar um novo tempo.

Dilma venceu no primeiro e segundo turnos no Tocantins e nem precisou ser o Estado com maior votação proporcional para ser um dos mais beneficiados pela vitória petista. O conjunto de forças que integra o novo governo tem todas as condições de tirar o Estado do atraso e colocar entre os mais progressistas e pujantes do Brasil, como virou Goiás depois da divisão. (Jornal Opção/Gilson Cavalcante e Ruy Bucar)

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