A pedido da Trip, a antropóloga Lilia Schwarcz e a historiadora Heloisa Starling, autoras do recém-lançado “Brasil: uma biografia“, fazem uma lista dos episódios mais vergonhosos da história nacional.— Em 29/06/2016 - Por Willian Binder (Reprodução)
1. Genocídio da população indígena
Até os dias de hoje há controvérsia sobre a antiguidade dos povos do
Novo Mundo. As estimativas mais tradicionais mencionam 12 mil anos, mas
pesquisas recentes arriscam projetar de 30 mil a 35 mil anos. Sabe-se
pouco dessa história indígena, e dos inúmeros povos que desapareceram em
resultado do que agora chamamos eufemisticamente de “encontro” de
sociedades. Um verdadeiro morticínio teve início naquele momento: uma
população estimada na casa dos milhões em 1500 foi sendo reduzida aos
poucos a cerca de 800 mil, que é a quantidade de índios que habitam o
Brasil atualmente.
2. Sistema escravocrata
O Brasil recebeu 40% do total de africanos que compulsoriamente
deixaram seu continente para trabalhar nas colônias agrícolas do
continente americano, sob regime de escravidão, num total de cerca de
3,8 milhões imigrantes. Fomos o último país a abolir a escravidão
mercantil no Ocidente (só o fazendo em 1888, e depois de muita pressão) e
o resultado desse uso contínuo, por quatro séculos, e extensivo por
todo o território foi a naturalização do sistema. Escravos eram
abertamente leiloados, alugados, penhorados, segurados, torturados e
assassinados.
3. Guerra do Paraguai
O Império brasileiro errou em cheio. Avaliou-se que a contenda
internacional opondo, de um lado, Brasil, Uruguai e Argentina, e, de
outro, o Paraguai seria breve e indolor. No entanto, a guerra – na época
chamada de “açougue do Paraguai” ou de “tríplice infâmia” – durou cinco
longos e doloridos anos: de 1865 a 1870. A consequência para o lado
paraguaio não foi apenas a deposição de seu dirigente máximo, mas a
destruição do próprio Estado nacional. Os números de mortes sofridos
pelo país são até hoje controversos e oscilam entre 800 mil e 1,3 milhão
habitantes. Quanto às estatísticas brasileiras, a relação de homens
enviados varia de 100 a 140 mil.
4. Canudos
Em 1897, a República abriu guerra contra Canudos: uma comunidade
sertaneja originada de um movimento sóciorreligioso liderado por Antônio
Conselheiro. Canudos incomodou o governo da República e os grandes
proprietários de terras, pois era uma nova maneira de viver no sertão.
Em 1897, o arraial foi invadido por tropas militares, queimado a
querosene e demolido com dinamite. A população foi dizimada. Em “Os
Sertões”, publicado em 1902, Euclides da Cunha escreve: “Canudos não
se rendeu. Caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos
defensores, e todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens
feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil
soldados”.
5. Polícia política do Governo Vargas
Em 1933, Getúlio Vargas criou a Delegacia Especial de Segurança
Política e Social (Desp). Para comandá-la, Vargas entronizou o capitão
do Exército, Filinto Müller. Na condição de chefe de polícia, Müller não
vacilou em mandar matar, torturar ou deixar apodrecer nos calabouços do
Desp os suspeitos e adversários declarados do regime sem necessidade de
comprovar prática efetiva de crime. Pró-nazista, sua delegacia manteve
um intercâmbio, reconhecido pelo governo brasileiro, com a Gestapo – a
polícia secreta de Hitler – que incluía troca de informações, técnicas e
métodos de interrogatório.
6. Centros clandestinos de violação de direitos humanos
A ditadura militar instalou, a partir de 1970, centros clandestinos
que serviram para executar os procedimentos de desaparecimento de corpos
de opositores mortos sob a guarda do Estado – como a retirada de
digitais e de arcadas dentárias, o esquartejamento e a queima de corpos
em fogueiras de pneus. No Brasil governado pelos militares, a prática da
tortura política e dos desaparecimentos forçados não foi fruto das
ações incidentais de personalidades desequilibradas, e nessa constatação
reside o escândalo e a dor.
7. Massacre do Carandiru
Mais conhecida como Carandiru, a Casa de Detenção de São Paulo
abrigava mais de 7 mil detentos, em 1992 – a capacidade oficial era de
3.500 pessoas. No dia 2 de outubro, uma briga entre facções rivais de
presidiários terminou num massacre: a tropa policial entrou no presídio
utilizando armamento pesado e munição letal. 111 presos foram mortos e
110 feridos. O cenário era de horror. Passados 21 anos, somente em 2014,
73 policiais foram condenados – todos podem recorrer em liberdade.
Publicação original de Revista Trip.
No Awebic damos destaque para coisas
importantes, por isso aqui está um pouco do passado brasileiro. É
através do passado que aprendemos com nossos erros para sermos uma
sociedade melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários geram responsabilidade. Portanto, não ofenda, difame ou dscrimine. Gratos pela contribuição.