(Reservatório criado por morador abastece a residência)
O PROGRESSO
O PROGRESSO
Hemerson Pinto
Criança carregando água no carrinho de mão, mulher com lata na cabeça e homem reclamando que já fez todos os tipos de ‘engenharia’ na intenção de levar o líquido precioso para dentro de casa. Este é o cenário do Conjunto Jurivê de Macedo, situado dentro do Parque Amazonas, região denominada Grande Cafeteira.
São 24 residências entregues há alguns anos a ex-moradores de áreas consideradas de risco, que antes habitavam as margens do Riacho Capivara, nos bairros Imigrante, João Castelo, Cafeteira e adjacências. O conjunto foi viabilizado junto ao Projeto de Aceleração do Crescimento, o PAC.
Desde a época em que mudaram para o conjunto, as famílias enfrentam o drama de virar a noite à espera de uma gota de água, que às vezes cai da torneira mais baixa, ou não. “Nem sempre a torneira mais baixa chega água, isto à noite, porque de dia, nem pensar”, diz o filho de dona Maria Salete, a aposentada que fraturou um braço ao cair carregando um balde cheio de água, na madrugada do último domingo. A moradora da Rua Paraná tinha ido ao hospital no momento da nossa visita.
Na casa da aposentada, o filho cavou um buraco no quintal até chegar ao cano que deveria trazer água da rua. Cada vez que precisa encher a caixa de água, basta conectá-la ao cano e aguardar. “Mas não é todo dia que funciona, porque não é todo dia que a água chega aqui”, comenta o rapaz. Se o cano que vem por baixo da terra não garante o abastecimento, imagine a torneira instalada a pouco mais de 10 cm do chão.
Na Rua Dalas, o armador Gercione perdeu dias de trabalho para pensar e executar o que seria a garantia de água dentro de casa, para ele, a esposa e as duas filhas. O reservatório foi construído com 800 tijolos, oito sacos de cimento e alguns metros de ferro, além da mão de obra.
Como funciona? Dentro, Gercione colocou uma caixa de água capaz de armazenar 5.000 litros. Com um pouco de sorte, isto é, quando a água vem, uma bomba ligada à rede de energia suga o líquido. Através de um cano espessura 20, a água é levada para outra caixa de água, menor, que fica armada sobre a cozinha da casa. “Ainda é um pouco difícil, pois no dia que não tem água no cano para encher as caixas eu tenho que carregar, como fazem os outros vizinhos. Se água é difícil, às vezes a gente deixa de ir ao trabalho para ir atrás de água”, reclama.
Antes – Depois de percorrer as poucas ruas do Conjunto Jurivê de Macedo, chegamos a outra parte do Parque Amazonas. Descobrimos que o problema de escassez de água não é localizado, mas sim, antigo e generalizado naquele setor. Aos 83 anos, o aposentado Cesário Borges Rocha costuma carregar em um carrinho de mão até 26 recipientes de dois litros de água cada. Faz isso pelo menos duas vezes por semana.
“Moro aqui tem 18 anos e nunca teve água. Os canos chegaram há muitos anos, mas a água não. Tenho um poço no quintal e tem mais poços aqui perto. Fui criado bebendo água do rio e hoje o povo diz que a gente não pode beber água de poço. Aí eu vou pegar aonde tem torneira e tem água”, declara Cesário, que pode contar com ajudas dos netos.
Para um dos vizinhos de seu Cesário, “vai ser preciso fazer um protesto?”, questiona o comerciante João Rosalino da Silva.
Fonte: O Progresso - Julho 31, 2013
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