Em 28/out/2015, 16h22min - De Sul21 (Reprodução)
Débora Fogliatto
O treuniu especialistas e público interessado para debater transporte, mobilidade, urbanismo e meio ambiente, com o objetivo de discutir a necessidade de humanização do trânsito e desenvolvimento sustentável das cidades. O evento foi realizado na terça e quarta-feira (27 e 28) no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa. Na manhã desta quarta-feira, um dos palestrantes foi o engenheiro, consultor do Portal do Trânsito e diretor de Educação da Secretaria de Trânsito de Curitiba, Celso Alves Mariano.
Ele, que é Engenheiro Agrônomo por formação, é Especialista Multidisciplinar em Trânsito pela PUC paranaense. Mariano iniciou sua fala questionando a relação das crianças com a cidade e o transporte, destacando que não há nenhum tipo de educação voltada para os pedestres. “Quem está ensinando nossas crianças a atravessar a rua? Tem formação para motoristas, mas não para pedestres. Tem crianças que só andam de carro e terão muita dificuldade quando tiver que atravessar a rua”, avaliou.
Isso está ligado a uma questão cultural de culto ao carro, muito comum na sociedade brasileira.”É quase psicótica nossa fixação pelo carro. Nos sentimos cidadãos de segunda categoria se não estamos no trânsito encapsulados nessas máquinas maravilhosas”, ironizou.
A partir dessa perspectiva que torna os carros o símbolo máximo de status e poder, as cidades brasileiras estão ficando cada vez com mais trânsito, fazendo com que atualmente se demore muito mais tempo para se deslocar do que há cinco ou dez anos. Em Curitiba, há quase um veículo por habitante, apontou Mariano. Ao mesmo tempo em que cresce à adesão ao carro, os acidentes de trânsito continuam aumentando. “Em 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) entrou na jogada porque os números são absurdos. Daqui a pouco vai estar no mesmo patamar de doenças cardíacas em termos de mortes”, lamentou.
Ele refletiu sobre as formas de conscientização no trânsito, como por exemplo a questão do cinto de segurança. Mariano apontou que a percepção de riscos é “instintiva” e muito baseada em traumas anteriores, que então geram as prevenções. “Se colocar todas as crianças que não gostam de usar cinto numa van sem cinto, pedir para o motorista frear bruscamente, elas vão todas se machucar. É provável que passem a ter medo de não usar o cinto, e aí farão uma associação. Mas não podemos fazer isso, nem depender disso”, brincou.
Uma boa forma de promover o cumprimento das leis é fazer com que elas façam sentido. Para isso, Mariano acredita em uma receita composta por infraestrutura aliada a esforços legais (aplicação da lei) e educação. “Só precisamos de um equilíbrio, de aplicação harmônica, contundente entre essas três. E é possível, Portugal já foi pior do que o Brasil e hoje é um dos países com menos acidentes”, garantiu.
Em Curitiba, foi criado um Comitê de Análise de Acidentes, além da instalação de vias calmas e equipamentos de geo-referenciamento, que permitem identificar os locais com maior número e causas de acidentes. Além disso, a Prefeitura da cidade faz um trabalho de comunicação nas redes sociais que agrega a população, com mais de 690 mil curtidas no Facebook — enquanto a de Porto Alegre, que tem uma página tradicional, conta com 23 mil. A página fala de assuntos municipais de uma maneira divertida, e um dos assuntos abordados é a questão do trânsito. “Ontem, por exemplo, postaram sobre o uso da bicicleta. Eles usaram inteligência e criatividade para passar as mensagens da Prefeitura”, avaliou.
Por outro lado, quando a capital paranaense instalou as vias calmas, Mariano considera que erraram na comunicação ao anunciar a redução de velocidade para 40 km/h. ” Não precisavam nem ter dito isso, porque na prática ninguém andava a mais de 40 km/h já. Podiam ter dito que iam implantar medidas para melhorar o fluxo do trânsito, e já melhorou”.
Um dos motivos pelos quais a falta de conscientização sobre o trânsito continua acontecendo é porque a população não percebe que qualquer um está sujeito a cometer um crime, matando ou ferindo gravemente outra pessoa, enquanto está no trânsito. “Não pensamos que (o trânsito) oferece todos esses riscos. Se soubéssemos que alguém ia morrer, nos mobilizaríamos. Não paramos para pensar que isso causa mortes”, disse.
Informações sobre programação completa do evento estão disponíveis no site www.cidadesemtransito.com.br. O seminário é promovido pelo Projeto Sinaleiro e tem o apoio, além do CREA, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-RS), Mútua-RS, Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs-RS), Assembleia Legislativa e Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).
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