Escrito por Miguel do Rosário,
Postado em Redação - de O Cafezinho (Reprodução)
A
última mentira da imprensa, como se vê pela cobertura do Estadão ao
discurso de Raduan Nassar contra o golpe, na entrega do prêmio Camões, é
dizer que ele fez “duras críticas ao governo Temer”. Isso ele fez,
claro. Mas o principal não foi isso. O principal é que ele denunciou o
golpe: a retirada de direitos, o neoliberalismo, o casuísmo do STF, que
não deixou Lula ser ministro e autorizou Moreira Franco.
Raduan Nassar:
“governo opressor”
“contra o trabalhador”
“contra a diplomacia”
“atrelado ao neoliberalismo e escandalosa concentração da riqueza”
“mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto pelo Ministério Público e pelo STF”. “dois pesos e duas medidas”, na autorização do STF a Celso de Mello,
que teve ainda o cinismo de, em seu voto [eu nem tinha reparado nisso],
elogiar a decisão anterior de Gilmar Mendes contra Lula.
Eu ainda estou procurando a íntegra do vídeo e do discurso. Se alguém
souber, publica aí nos comentários. Por enquanto vai esse trecho
publicado no twitter do Suplicy.
https://twitter.com/esuplicy/status/832594694450401281 Da Carta Capital
Raduan Nassar: “Vivemos tempos sombrios”
Em seu pronunciamento na entrega do Prêmio Camões de literatura, o
escritor critica o golpe, o governo Temer e o STF.
Leia a íntegra
Às dez e meia da manhã desta sexta-feira 17, o escritor Raduan Nassar
subiu ao palco montado no Museu Lasar Segall, em São Paulo, para
receber o Prêmio Camões de 2016, honraria concedida pelos governos do
Brasil e Portugal e um dos principais reconhecimentos da literatura em
língua portuguesa. Nassar ofereceu à plateia o seguinte discurso:
Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido
pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro
ter sido contemplado no berço de nossa língua.
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde
a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui
sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios
acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido
dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan
Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a
prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao
manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de
Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também,
por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima
inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo
exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta
figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo
repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas,
contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia
ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao
neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem
desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua
amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal
Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias,
quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas,
acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o
ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao
alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus
pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil,
no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com
seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a
reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então
presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o
processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto
popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.
O golpe estava consumado!
Não há como ficar calado.
Obrigado
Atualização: a íntegra do discurso
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