21 dezembro 2013

MARABÁ | PA Marcado para morrer: os crimes no interior do Pará


Disputas pela exploração da terra tornam a região de Marabá uma das mais violentas do país

Reportagem e fotos: Glauco Araújo / Videos: Luciano Cury - Do IG


O sudeste do Pará é marcado pelos altos índices de mortes relacionadas a questões agrárias. Em abril de 1996, a polícia militar matou 19 trabalhadores sem-terra no que ficou conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás. A violência no campo não foi reduzida desde então: em 2012, foram seis mortes e mais de 50 tentativas de homicídios, e a lista de pessoas ameaçadas de morte ou que escaparam de atentados não para de crescer.

Como parte da série especial “Bye Bye Brasil, três décadas depois”, que refaz a rota da Caravana Rolidei, do filme de Cacá Diegues, o G1 visitou as cidades de Marabá, Eldorado dos Carajás e Curionópolis, onde fica Serra Pelada. Confira dados sobre a violência na região, histórias de assassinatos e de ameaçados de morte e entrevistas com sobreviventes de Eldorado dos Carajás. Conheça também a nova mina de Serra Pelada e as diferenças entre a exploração mecanizada de hoje e o “formigueiro humano” que era o garimpo nos anos 1980.

Nos vídeos abaixo, a sindicalista Maria Joel Dias da Costa, conhecida como Joelma, fala sobre o dia em que presenciou a morte do marido, assassinado em 2000 a mando de fazendeiros da região, e conta como negociou a própria vida com o pistoleiro contratado para matá-la.

‘Como meu marido morreu’

Joelma conta em detalhes a morte de Dezinho e critica: ‘na hora do julgamento, a gente vê quem manda matar ser livre e solto’

‘Como negociei minha vida’

Sindicalista relembra o momento em que ficou de frente com o seu pistoleiro e confessa: ‘tenho fé que minha partida será por Deus’

Ameaçados de morte estão sem proteção

Entre 2000 e 2012, mais de 60 ambientalistas e trabalhadores do campo sofreram ameaças de morte ou sobreviveram a atentados, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). O contrato entre os governos federal e estadual para o Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos, no entanto, está vencido desde outubro de 2012.

Em Marabá, a sede do Incra foi ocupada por 2 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que pedem mais rapidez na conclusão de processos de assentamentos. Muitas ações se arrastam na Justiça por mais de 10 anos, enquanto que as tensões no campo aumentam. “Infelizmente, a situação vem se deteriorando a cada ano”, diz José Afonso Batista, advogado da pastoral.

A situação continua grave. Temos mais de 100 fazendas ocupadas por cerca de 20 mil famílias de trabalhadores rurais sem terra no Sul e Sudeste do Pará. Alguns deles duram mais de 10 anos sem que o problema tenha sido resolvido. Na mediada que esses conflitos se arrastam no tempo, a possibilidade de violência é cada vez maio"

José Afonso Batista, advogado da Comissão Pastoral da Terra

O outro lado

Segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o convênio não foi renovado por necessidade de aprimoramento do plano de trabalho em âmbito estadual. Atualmente, 66 pessoas estão no programa no Pará. Mesmo sem o convênio paraense, o órgão federal informou que todos os casos de vítimas de ameaça de morte no estado são analisados pela Coordenação Nacional do Programa.

Isso inclui a articulação com órgãos envolvidos na solução das ameaças; acompanhamento das investigações e denúncias; monitoramento por meio de visitas periódicas no local de atuação da vítima para verificar a permanência do risco e a situação de ameaça; retirada provisória da pessoa do seu local de atuação, em casos excepcionais e emergenciais; proteção policial em casos de grave risco e vulnerabilidade.

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