12 abril 2014

Senador Suplicy autoriza divulgação de email

São Luís, MA. Em março deste ano, o empresário Sebastião Caracas, do Condomínio Village Praia, localizado na Praia do Olho D'Água, na capital do Maranhão, enviou correspondência eletrônica ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Neste mês de abril, o parlamentar autorizou a devida publicação que segue:

Segue a íntegra:

São Luís, 26 de março de 2014

Respeitável Senador Eduardo Suplicy.

Se todos os brasileiros possuíssem um espírito generoso como tem Vossa Excelência, o paraíso seria aqui neste país maravilhoso.

Fiquei sinceramente honrado e senti-me feliz com a sua correspondência de 18 de março corrente que traduz sua luta pelo direito de todos os brasileiros viverem com dignidade, tendo um mínimo para sobreviverem de acordo com suas necessidades.

Vejo que lutamos pela mesma causa, porém, em campos e métodos diferentes.

Gostaria de ver, erradicada neste país, não somente a miséria, mas sobretudo o analfabetismo, que é a principal causa de todos os males que assombram, de norte a sul, a população ordeira, que trabalha, que produz.

Da maneira como está sendo conduzido o país, cresce como praga terrível: a impunidade, a corrupção, o desvio de recursos públicos e o seu uso inadequado como se fossem propriedade particular de alguns maus brasileiros. É um dos assuntos, além dos crimes e assaltos, que preenchem os noticiários diários de comunicação do país.

Não se ouve uma notícia, um programa nos meios de comunicação para educar a população nem persuadi-la para gerar meios com a finalidade de despertá-la para um movimento que se transforme em unidade nacional em torno de ideias visando valorizar o sentido de cidadania, de patriotismo para uma mudança de costumes. Seria isso uma grande batalha de patriotismo e de conquistas.

Teríamos uma revolução pacífica, uma conspiração ou protesto, no bom sentido, que poderia crescer em todos os corações e em todas as mentes, visando à libertação das populações que se encontram em estado de miséria ou de pobreza.

Nas condições de atraso em que grande parte da população se mantém indiferente ao que se passa ao seu redor, convivendo tanto com a escuridão que lhe causa o analfabetismo, quanto com a apatia espiritual que embarga os seus desejos de serem entes capazes e desenvolvidos, permanece a eterna dependência, sem que possa usufruir dos direitos e cumprir os deveres que lhe são assegurado pela constituição,

Com a consciência de tudo isso poderia se libertar do estigma como é vista por muitos, como bichos de estimação mantidos com ajuda de migalhas, vales disso ou daquilo, esperando a compreensão de pessoas bondosas que lhe favoreçam com o pão de cada dia ou da suposta bondade do governo.

Precisamos de uma grande campanha abrangente que faça cada indivíduo despertar para a vida, persuadindo-o a um protesto pessoal a favor de si próprio, contra seu estado de indolência mantido por bondade de outras pessoas, dos políticos e de instituições que poderiam aplicar os recursos públicos em outras áreas.

Ao libertar o indivíduo das suas deficiências, o custo Brasil seria reduzido. Cada um espontaneamente passaria a fazer suas próprias avaliações, sabendo conscientemente escolher seus dirigentes, seus vereadores, deputados, governadores, senadores, e presidentes da república.

A população teria como exigir educação de qualidade, com a valorização da classe de professores, a fim de terem melhor preparo, e colégios funcionando em instalações dignas.

Poderia exigir melhores condições de saúde, mais humanizadas, com hospitais bem aparelhados, atendimento adequado, sem sofrer constrangimento em filas intermináveis, além de exigir transparência da aplicação dos recursos públicos.



Ordem e Progresso Não dá para esquecer essas duas palavras significativas que enriquecem nossa bandeira. Ao ser desfraldada antes das aulas, no meu tempo de juventude, todo o colégio em ordem unida cantava o hino nacional.

Era a primeira lição de civismo, de cidadania e de amor à Pátria que recebíamos pela manhã. Sabíamos respeitar nossos mestres e contribuir para a manutenção da disciplina.

Agora o que se vê é o sensacionalismo, como é noticiado, de estudantes brigando nas salas de aula, ameaçando os professores, que perderam a autoridade, sem nada poderem fazer ou reagir para não serem presos como transgressores dos direitos humanos.

Isto, no meu entender, pode ser considerado uma atitude hipócrita da nossa democracia, quando há tantos desmandos com impunidade. As ruas estão cheias de verdadeiros monstros criados nas salas de aulas.

O sistema educacional, em vez de ser dirigido para instruir, educar, orientar, despertar lideranças e valores morais que possam engrandecer a Nação, seguiu na contramão, como centro de maus ensinamentos, de indisciplina, de desrespeito, de analfabetos e até, entre outros males, de atroz amargura.

Hoje, pelo que sei, é proibido reprovar nos colégios, para o aluno poder passar de um ano para outro. Já ouvi noticias da diplomação de analfabetos. O governo está mais interessado em estatísticas para demonstrar progresso na área de educação, pelo número de alunos matriculados, do que em desejar educação de qualidade.


Cursos profissionalizantes Já falei algumas vezes que precisamos salvar nossos jovens da miséria e do mundo marginal, ensinando-os a pescar (como dizem os chineses) para serem cidadãos dignos.

A sugestão que ofereço tem alto sentido social, ao desejar retirar das ruas uma numerosa legião de jovens, que a cada ano aumenta em proporções gigantescas, podendo, sem outras alternativas, finalizar suas carreiras no mundo do crime.

Se forem portadores de alguma experiência e formação profissional, estarão aptos a se juntarem à força de trabalho de que o país precisa para acelerar o seu desenvolvimento.

Sem iniciação profissional jamais terão chance de um trabalho na economia formal, cujo mercado está se tornando altamente competitivo, exigindo conhecimentos, experiência e competência.

Ninguém emprega alguém que não esteja habilitado ou possua experiência, devido ao custo do sistema, que se refere aos encargos sociais, principalmente menores que necessitam de aprendizagem.

Está comprovado que cerca de 90% dos concludentes do curso médio não têm acesso às universidades públicas, por falta de conhecimento, nem às universidades particulares, por falta de recursos financeiros, apesar do sistema de educação no Brasil, favorecer àqueles que desejam ingressar nas universidades, com financiamentos e cotas específicos para isso.

Por outro lado, no ensino fundamental e médio, os pobres não podem manter seus filhos em boas escolas porque não possuem recursos para isso. Diferentemente de alguns países bem desenvolvidos, as escolas públicas vivem em condições precárias.

O Brasil necessita de técnicos do curso médio, cuja formação profissional pode ser adquirida nesse período escolar, desde que se faça sua inclusão entre as matérias exigidas, como há em outros países.

Enquanto isso existe absoluta carência de profissionais do curso médio em todas as cidades, razão pela qual os políticos e o governo deveriam estudar o assunto.

Vejo, em certos lugares, o trabalho de pedreiro, ser bem mais remunerado do que o de médico.

Podemos citar alguns profissionais mais requisitados: marceneiros, carpinteiros, eletricistas, pedreiros, pintores, encanadores, jardineiros, manicuras, cabeleireiros, cuidadores, doceiras, cozinheiros, mecânicos, técnicos eletroeletrônicos, etc.

Os jovens sem qualquer experiência passam algum tempo sem emprego. Sem esperança, ingressam no mundo do crime. Revoltados, carentes se transformam em feras.



Muitos foram crianças injustiçadas,
Entre desigualdades,
Com tantos sofrimentos,
Por falta de humanidade.


Sem abraços e sem calor,
A rua é sua morada,
São crianças abandonadas,
Sem famílias e sem amor.


Dantesco quadro se vê,
Sem moldura,
Que agride e choca,
Sem brilho e sem pintura.


Que vergonha pode ter,
Quem na rua foi criado,
como criança rejeitada,
Ao mendigar desesperada.


Excluídas e humilhadas,
Sempre reprovadas,
Querem apenas um olhar,
Para poderem melhorar.


A rejeição produz feras,
Vão às ruas pra caçar.
Quando a fome aperta,
Tanto faz roubar como matar.
Estamos na verdade, num país de desigualdades, com nacionalistas mascarados. Enquanto alguns, com a chave do cofre, possuem tudo, outros não possuem nada.

Em São Luís, já vi de uma autora popular o seguinte versinho: “Jacaré na beira da lagoa, em cima de pau, ou foi enchente, ou mão de gente.”

Para melhor me identificar quero informar ao ilustre Senador que já fiz 87 anos de idade. Aposentei-me de direito e não de fato, há longos anos para receber vinte salários mínimos, por tempo de serviço, pois contribui para isso, como diretor de empresas. Agora pouco recebo. Enquanto isso, vi recentemente uma notícia nos jornais de um concurso para segurança do Congresso, com um salário de doze mil mensais.

Felizmente, o que recebo ainda é suficiente para pagar um Plano de Saúde e comprar os remédios que eu e minha esposa, de 85 anos, tomamos por recomendação médica.

Trabalho há 71 anos, porque morreria de vergonha se me tornasse um dependente financeiro de alguém.

Digo sempre: Amo a vida que mantém vivas as minhas esperanças e o meu trabalho que me dá independência e dignidade.

Agradecendo antecipadamente as atenções de Vossa Excelência, subscrevo-me



Atenciosamente

São Luís - MA.

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